quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A vida e o cotidiano dos operários dentro e fora da fábrica

Os trabalhadores moravam geralmente próximo às fábricas, mas precisavam acordar de madrugada, porque o trabalho começava entre cinco e seis horas da manhã. As mulheres acordavam sempre antes dos homens, porque precisavam preparar o alimento que seria levado para o almoço. Tinham ainda que limpar a casa, lavar a roupa e cuidar de crianças etc..

Alimentavam-se basicamente de batatas cozidas com um pouco de bacon e chá. Sua antiga alimentação, pão de aveia e cerveja caseira, tornara-se um luxo devido ao aumento do preço dos cereais. Suas moradias eram pequenas, nas ruas havia lama e lixo, o esgoto ficava sempre exposto. O mau cheiro era então, fortíssimo, insuportável.

Se os operários viviam em bairros e moradias miseráveis, a burguesia inglesa e européia vivia de forma bastante confortável. Suas residências eram cuidadosamente planejadas, com jardins internos, sala de jogos, recantos femininos e masculinos, longos corredores para preservar a intimidade nos inúmeros cômodos. Todo esse luxo ficavam longe e distante dos olhos dos trabalhadores.
O trabalho na fábrica era realizado em pé e durava muitas horas (entre catorze e dezesseis horas). havia capatazes também, ou seja, pessoas que vigiavam o trabalho dos operários. Os donos das fábricas, geralmente nem eram conhecidos pelos trabalhadores, diferente do que acontecia nos tempos das oficinas, ou das indústrias domésticas, quando havia um contato mais direto com os patrões.

Havia um intervalo para o almoço no final da manhã. Os operários sentavam no chão da fábrica para comer e quase não conversavam pois em quinze minutos deveriam retornar ao trabalho, o qual estendia-se até nove horas da noite, aproximadamente. O desgaste era muito grande e vários deles não tinha disposição para divertimentos. Alguns, porém, dirigiam-se aos bares, onde bebiam gim - uma bebida muito mais forte do que a cerveja caseira -, até uma certa hora, quando retornavam para casa. O jantar era, quase sempre à base de batatas e sopa de aveia.

Enquanto seus pais trabalhavam, as crianças ficavam sozinhas em casa. Geralmente os mais velhos cuidavam dos mais novos. Porém, estavam sempre expostos às doenças, pois o ambiente em que viviam era higienicamente precário. Vários pais acabavam permitindo que seus filhos também fossem trabalhar nas fábricas. Isto porque precisavam aumentar a pequena renda da família.

As crianças começavam mais cedo ainda, aos cinco anos de idade, por exemplo. Trabalhavam a mesma quantidade de horas que seus pais, eram vigiadas e castigadas pelos capatazes e recebiam cerca de um sexto do salário dos adultos. Devido a isso, as crianças passaram a ser cada vez mais empregadas, o que causou o desemprego de muitos adultos. Antes da existência das fábricas, já havia trabalho infantil - nas oficinas, por exemplo, mas era intercalado com jogos e brincadeiras, o que não acontecia nas fábricas.

Texto oganizado por Hostelita  

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Evolucionismo cultural, segundo Lewis Morgan

Lewis Morgan designou três grandes períodos étnicos que marcaram a história humanidade: a Selvageria, a Barbárie e a Civilização.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

De acordo com a teoria evolucionista da humanidade, a história do homem seguiu, desde sempre, um mesmo caminho, linear e progressivo. Analisando algumas condições entendidas como universais, pode-se traçar o caminho realizado pelo homem desde seus primórdios até os dias de hoje, evidenciando uma diferença temporal entre aqueles que ainda não possuíam determinados estágios desenvolvidos.

Seguindo a tendência de alguns etnólogos, que tinham como base no séc. XIX a Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin, Lewis Morgan determinou que as condições básicas que se pode analisar em cada estágio da história humana são, por um lado, as invenções e descobertas e, por outro lado, o surgimento das primeiras instituições. Dessa forma, constatam-se alguns fatos que marcavam a gradual formação e desenvolvimento de certas paixões, ideias e aspirações, comuns aos humanos em cada estágio. Estes fatos são:

1.      A subsistência;
2.      O governo;
3.      A linguagem;
4.      A família;
5.      A religião;
6.      A arquitetura;
7.      A Propriedade.

Cada um desses fatos e seus desenvolvimentos caracterizariam a formação de um período étnico, permitindo a sua identificação e distinção dos demais. De forma geral, Morgan designou três grandes períodos étnicos da humanidade: a Selvageria, a Barbárie e a Civilização. Vejamos como ocorreram:
A selvageria iniciou-se com o surgimento da raça humana, adquirindo uma dieta à base de peixes e também desenvolvendo o conhecimento e uso do fogo, chegando, por fim, à invenção do arco e flecha;

A barbárie é a fase imediatamente posterior à selvageria, tendo como característica distintiva a invenção da arte da cerâmica. É também caracterizada pela domesticação de animais, bem como do cultivo de plantas através de um sistema de irrigação. O uso de tijolos de adobe e pedras na construção de moradias também fez parte deste período. Por fim, a invenção do processo de fundição do minério de ferro e o uso de ferramentas deste metal.

A civilização, período ao qual pertencemos, tem início, conforme Morgan, com a invenção do alfabeto fonético e o uso da escrita e estende-se, como dito, até a atualidade.

É assim que Morgan entende o sentido da evolução humana. Em cada uma dessas etapas, as invenções passaram por um processo de adaptação progressiva. Pode-se entender que o homem civilizado, porque tem armas mais sofisticadas, instrumentos que exijam uma tecnologia mais avançada e instituições mais consolidadas, é o padrão de referência para o julgamento dos homens nos tempos anteriores a esse status. Mas, será que o índio ou o aborígene não tem cultura? Não seguem regras e não possuem também linguagem? Essa crítica pode ser levantada, pois a chamada civilização torna-se juiz de si mesma, isso criou o que conhecemos na história como Etnocentrismo, ou seja, uma etnia no centro, julgando as outras a partir de suas próprias condições.

Portanto, é deste modo que a sociedade atual fala em progresso, em evolução e institucionalização, pois segue a ideia clássica de que a humanidade tem uma mesma origem no tempo, embora em espaços diferentes, mas que aquelas sociedades que se livram das condições de estágios anteriores, alcançaram o nível de civilidade, enquanto as outras que não se livraram dessas mesmas condições continuam, seja num estágio de selvageria, seja num estágio de barbárie.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Positivismo, Marxismo e Escola dos Anaales e suas diferenças

Auguste Comte
HISTÓRIA POSITIVISTA
Os historiadores dessa corrente de pensamento baseavam suas análises em perspectivas deterministas, isto é, ressaltavam, por intermédio de uma variedade de documentos oficiais escritos, os fatos mais importantes; ordenavam-nos seguindo uma ordem cronológica e linear de apreensão do tempo e descreviam-nos com a perspectiva de reviver o passado real da humanidade. Por isso, receberam o estigma de “metódicos” ou “historiadores narrativos”, pelos historiadores do século XX. A intenção dos historiadores positivistas era ressaltar a importância dos grandes heróis nacionais, assim como, evidenciar no Estado Nacional em consolidação, o verdadeiro sujeito das transformações em curso. Além disso, enaltecer o auge da civilização europeia em ritmo acelerado de desenvolvimento após as novas tecnologias advindas da Segunda Revolução Industrial.

Nota-se uma preocupação com assuntos de ordem política e social, porém resgatando uma sociedade “abstrata”, pois se centralizava na figura dos grandes líderes nacionais, estes sim, responsáveis pelas transformações estruturais de sua Nação. Os diversos grupos sociais estavam esquecidos, ou “à margem” do desenrolar histórico. 

Historiador alemão Leopold Von Ranke
Leopold Von Ranke (1795-1886)
Esse historiador alemão, “pode ser considerado um dos fundadores da história científica na Alemanha e um dos fundadores do cientificismo” (BURGUIÉRE, 1993, p. 645). Ranke exerceu um papel importante na configuração dos aportes teóricos que possibilitaram fornecer um caráter científico à História. O historicismo ou História Narrativa é o nome dado à Teoria que pretende apresentar “os fatos históricos tal qual realmente se passaram” (wie es eigentlich gewesen) (RANKE apud LÖWY, 2007, p. 68). Sua metodologia (o positivismo) tem como princípio a objetividade e neutralidade por parte dos historiadores ao “reviver” a História. 

A história pode ser concebida como uma narrativa de fatos passados. Conhecer o passado dos homens é, por princípio, uma definição de história, e aos historiadores cabe recolher, por intermédio de uma variedade de documentos, os fatos mais importantes, ordená-los cronologicamente e narrá-los. Essa tendência passou a ser dominada de historicismo, cuja metodologia foi conhecida como positivista, por basear-se nos princípios da objetividade e da neutralidade no trabalho do historiador. Conhecer o passado da humanidade tal como ocorreu constitui uma definição de história característica da ciência positivista do século XIX.

De uma história econômica a uma história social 
No decorrer do século XX, a produção historiográfica passou a disputar espaço com as novas ciências sociais que se constituíam na busca da compreensão da sociedade, especialmente a Sociologia, a Antropologia e a Economia. Como consequência dessa disputa houve uma renovação na produção historiográfica com paradigmas que visavam ultrapassar o historicismo.

Karl Marx
A HISTÓRIA MARXISTA
A Filosofia marxista configurou, de fato, um novo enfoque teórico de análise da História. Enquanto os historiadores positivistas baseavam seus estudos na “genealogia da Nação Moderna”, por intermédio dos documentos oficiais escritos, compondo uma história das elites políticas, “reacionária” do ponto de vista teórico, Marx afirmava ser a Luta de classes o verdadeiro fundamento de uma História em movimento. Para Marx, o “trabalho” (categoria fundante de sua filosofia), entendido como as múltiplas relações entre os homens e a natureza, relação esta que ocorre como condição material da vida em sociedade, representa o estágio ou modelo de produção de organização social e econômica de um determinado espaço e período histórico.

O “acontecimento” e “as ações individuais” (fundamentais para os historiadores positivistas) provocadores de transformações e mudanças, são para os historiadores marxistas, consequências naturais do estágio do modo-de-produção em curso. 


Marc Bloc
Lucien Febvre
ENTRA EM CENA A ÉCOLE DOS ANNALES
Essa corrente do pensamento historiográfico surgiu com a inauguração da revista: “Analles de História Econômica e Social”, fundada em 1929 pelos historiadores Marc Bloch (1886-1944) e Lucién Febvre (1878-1956) (ambos professores da Universidade de Estrasburgo). A intenção era promover estudos relativos às estruturas econômicas e sociais, favorecendo possíveis contatos interdisciplinares no seio das Ciências Sociais. Os horizontes de ação do historiador ampliavam-se e possibilitavam recuperar o passado por intermédio de questões colocadas pelo tempo presente, assim como a ampliação da noção de fonte. A História deixa de ser “narrativa” para ser “problema”: Na história-problema, o historiador escolhe seus objetos no passado e os interroga a partir do presente. Ele explicita a sua elaboração conceitual, pois reconhece a sua presença na pesquisa: escolhe, seleciona, interroga, conceitua. 

A noção de tempo é encarada da seguinte forma: A divisão entre “tempo do acontecimento, da conjuntura e da longa duração ou estrutura” (BITTENCOURT, 2004, p. 146) possibilitou uma ampliação da noção de tempo à História e definiu novos aportes metodológicos para apreensão da memória histórica.