O que Freire fez de tão revolucionário para ser referência no mundo?
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Madalena Freire, filha de Paulo Freire, participa da alfabetização em Angicos/RN, em 1963 (Foto: divulgação) |
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Antes do golpe militar, reunião com Ministro da Educação, para discutir as estratégias para a execução do Plano Nacional de Alfabetização (Foto: divulgação) |
O método
Ele dividiu seu método em fases. Inicialmente, o educador explora junto com o adulto a ser alfabetizado quais palavras e temas são parte do universo vocabular do grupo. Por meio de conversas informais, seleciona aproximadamente 20 palavras geradoras. Discute o significado daquela palavra naquele contexto e amplia para outros significados. Depois, o educador mostra como as sílabas formam as palavras e como essas mesmas sílabas podem ser usadas para formar outras palavras conhecidas. Durante esse processo, todos conversam sobre o poder das palavras, para que os falantes possam se apropriar delas também no registro escrito sem distanciamento, donos delas. Nesse processo, discutem, além do abc, a compreensão do mundo, inspirando uma postura pela liberdade.
Os resultados do seu método foram testados no mundo todo, sendo adotado por diversas organizações não-governamentais que desenvolvem programas de alfabetização de adultos. É poderoso sem ser pretencioso, nasce da esperança de uma democracia onde todos tenham liberdade para se manifestar. “Paulo Freire foi denominado ‘guardião da utopia’ por Milton Santos. O legado que ele nos deixa, entre tantas contribuições, é um legado de esperança, de entender a educação como espaço de transformação social, que nos ajuda não só a ler a história, mas sermos também escritores da história, de entender que o ‘mundo não é; o mundo está sendo’, de não nos inscrevermos no campo do determinismo e sim no campo das possibilidades, onde há sempre lugar para o sonho e para a esperança”, fala Angela Antunes.
Lendo o mundo
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Alfabetização de adultos em São Tomé usando o método freiriano (Foto: divulgação) |
Paulo Freire se mantém atual. “Na sociedade do conhecimento de hoje, isso é muito mais verdadeiro, já que o “espaço escolar” é muito maior do que a escola. Os novos espaços da formação (mídia, rádio, TV, vídeos, Internet, igrejas, sindicatos, empresas, ONGs, espaço familiar...) alargaram a noção de escola e de sala de aula. A educação tornou-se comunitária, virtual, multicultural, intertranscultural e ecológica, e a escola estendeu-se para a cidade e o planeta. Hoje se pensa em rede, se pesquisa em rede, trabalha-se em rede, sem hierarquias. Paulo Freire insistia na conectividade, na gestão coletiva do conhecimento a ser socializado de forma ascendente. Não se trata mais de ver apenas a ‘cidade educativa’ (Edgar Faure) mas de enxergar o planeta como uma escola permanente”, pontua Angela Biz Antunes.
Em abril deste ano, Paulo Freire recebeu o título de Patrono da Educação Brasileira pela Presidência da República. E não para por aí. Ele é doutor Honoris Causa por 27 universidades, tendo títulos das Nações Unidas, 1986, e da Organização dos Estados Americanos, 1992.
O Instituto Paulo Freire, fundado por ele mesmo em 1991/1992, nasceu com essa missão de promover esta educação emancipadora, combatendo todas as formas de injustiça, de violência, de preconceito, de exclusão, de degradação das comunidades e da vida humana, educando para a transformação social e a cidadania planetária. No Brasil, a rede freiriana já conta mais de 10 instituições disseminadoras, além de mais de 50 homenagens - escolas, bibliotecas, salas etc., que levam o nome de Paulo Freire. Seus livros são referências no mundo todo e adotados por faculdades de pedagogia. Atualmente, a rede freiriana no mundo está conectada em cerca de 90 países, ou por universidades, ou por pedagogos/estudiosos de Freire.
Instituto Paulo Freire
http://www.paulofreire.org/
Rua Cerro Corá, 550
05061-100 São Paulo - SP
Tel: (11) 3021 5536
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