sábado, 10 de dezembro de 2011

Histórias de teatro

Um punhado de fatores fervilhou a inauguração da escola de teatro da Fundação das Artes de São Caetano em 1969. Era o auge do período mais ferrenho da ditadura militar, quando as mentes artísticas abusavam do pensamento criativo para fugir das perseguições da censura sem perder a chance de criticar os abusos do sistema político.


Por outro lado, o teatro amador do Grande ABC - e o do Estado inteiro -, nunca viveu melhor período do que nesta época, incentivado por renomados festivais e apoiado pelo público, que comparecia em massa às sessões disponíveis.


É sobre este período que o memorialista José Armando Pereira da Silva traça um bonito painel da criação da Fundação das Artes no livro 'Escola da Fundação das Artes de São Caetano do Sul - 1969-1982' (Alpharrabio Edições, 120 págs., preço médio R$ 30). A obra será lançada amanhã, às 11h, na Fundação (Rua Visconde de Inhaúma, 730, São Caetano. Tel.: 4238-3030).


Apoiado pelos primeiros artistas da região que foram em busca de profissionalização na Escola de Arte Dramática de São Paulo, o espaço surgiu para somar as qualidades do amadorismo e do profissionalismo. Do primeiro, buscava o amor e a dedicação ao teatro enquanto vocação, e não seu uso como fonte de dinheiro ou prestígio social. Da parte técnica, requeria que a Fundação fosse celeiro de processo de apuro cênico e intelectual.


Sob o comando de Milton Andrande, gente como Antonio Petrin, Timotchenco Wehbi, Dilma de Melo e Ruslan Gawiljuk estava no quadro de professores da Fundação. 


Para José Armando, que fez parte do corpo docente no início da implementação do projeto, os 14 anos em que Andrade ficou à frente da instituição (período retratado no livro), foram extremamente criativos. "Ele era avesso a enquadrar a Fundação em padrões técnicos, achava que a arte era mutante e que quando você a torna disciplina acaba freando a criação."


Ele cita a época em que Ulisses Cruz foi diretor da área teatral da Fundação (logo no fim da narrativa) como extremamente profícuo por conta da ideia de junção entre alunos e profissionais em busca de transformar o local em centro de pesquisa e criação. "'O Coronel dos Coronéis' e 'Lola Moreno', duas obras dos tempos de Ulisses, transformaram a Fundação em verdadeira companhia. Essas peças viajaram para outras cidades e Estados."


Há texto assinado por Heitor Cappuzzo que comenta o curto período em que a cultura cinematográfica, tanto em discussão como em produção, fez parte da escola.


Depoimentos de gente que passou pelo espaço, além de ficha das obras que foram montadas de 1983 a 2001, e texto da diretora atual, Liana Crocco, que dá um panorama do que acontece na Fundação hoje, completam o livro.


Mais do que importante capítulo histórico, o livro é uma boa aula de teatro.


texto: Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A disciplina de Educação Física reprova?


Sempre que o final do ano letivo se aproxima, o medo de repetir o ano assusta os alunos e principalmente os pais, que investem a própria vida no futuro da sua prole. Matemática, Português, Física, Química, Ciências Naturais, História e Geografia, são apenas algumas das disciplinas exigidas no PCN (documentos oficiais do MEC), que estão estabelecidas na LDB (Lei de Diretrizes e Base). Mas o que dizer das aulas de Educação Física, estas também estão incluídas nos parâmetros curriculares? Elas reprovam?

Durante anos as aulas de Educação Física estavam difundidas entre as estruturas de ensino de forma recreativa, sem uma real importância na formação dos discentes.

Em 1961, entretanto, com a criação da primeira LDB N° 4024, as aulas passaram a fazer parte da educação geral. Houve inúmeras experiências inovadoras no processo de educação formal. A Educação Física passou a se preocupar com a atitude postural adequada, com a coordenação sensorial motor, o refinamento dos sentidos, e o aumento da sensibilidade rítmica, favorecendo a co-educação, e o conhecimento dos costumes brasileiros. No entanto, a experiência não vingou e logo sofreu revezes devido ao regime implantado pelo governo militar.

Dez anos depois foi implementada a segunda LDB de N° 5692, que nomeou a Educação Física como disciplina, de orientações teóricas e de cunho prático, sem reprovação exceto por faltas. O programa recomendado para as aulas de Educação Física compreendia um conjunto de métodos de práticas esportivas que foram desenvolvidas meramente para alcançar o máximo de resistência e de eficiência individual.

Na implementação da terceira LDB em 1996, a disciplina de Educação Física ganhou novo destaque, deixou de fazer parte de uma disciplina integradora e se tornou importante na formação intelectual, moral e física do aluno. De acordo ao artigo 26, a Educação Física está integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa apenas nos cursos noturnos. Sendo assim, a Educação Física reprova sim.

Acredita-se hoje que o ensino tradicional ainda esta embutido no meio social, a Educação Física fez parte de um ensino integrado, de cunho complementar, visando apenas o desempenho físico. Entretanto, nos últimos anos, a disciplina de Educação Física desenrolou-se por diversas vertentes, ganhou novas ênfases e passou a fazer parte do currículo educacional. É preciso que gestores educacionais, professores e pais passem a ter conhecimento destes novos paradigmas e que possam juntos construir uma educação melhor para os jovens discentes.


Por Murilo Benevides

sábado, 3 de dezembro de 2011

Tire a dúvida sobre o patrimônio histórico

O que é um museu?
Museu é o espaço institucionalizado onde se desenvolve a relação específica do homem/sujeito com o bem cultural. Em uma definição de caráter operacional, de 1974, o Conselho Internacional de Museus – Icom conceitua museu como “estabelecimento permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberto ao público, que coleciona, conserva, pesquisa, comunica e exibe, para o estudo, a educação e o entretenimento, a evidência material do homem e seu meio ambiente”.

O que é bem cultural?
Bem cultural, em seu sentido amplo, compreende todo testemunho do homem e seu meio, apreciado em si mesmo, sem estabelecer limitações derivadas de sua propriedade, uso, antiguidade, ou valor econômico. Os bens culturais podem ser divididos em três grandes categorias:
  • Bens naturais – rios, cachoeiras, matas, florestas, grutas, climas, etc. (patrimônio natural);
  • Bens materiais – sítios e achados arqueológicos (patrimônio arqueológico); formações rurais e urbanas (patrimônio urbanístico); agenciamentos paisagísticos (patrimônio paisagístico); bens móveis, como objetos de arte, objetos utilitários, documentos arquivísticos e iconográficos; bens imóveis, como edificações rurais e urbanas (patrimônio artístico e arquitetônico); e
  • Bens imateriais – tradições e técnicas “do fazer” e “do saber fazer” humanos, como polir, esculpir, construir, cozinhar, tecer, pintar, etc. (patrimônio intelectual); as expressões do sentimento individual ou coletivo, como as manifestações folclóricas e religiosas, a música, a literatura, a dança, o teatro, etc. (patrimônio emocional).
O que é patrimônio cultural?
Entende-se por patrimônio cultural toda a produção humana, de ordem emocional, intelectual, material e imaterial, independente de sua origem, época natureza ou aspecto formal, que propicie o conhecimento e a consciência do homem sobre si mesmo e sobre o mundo que o rodeia. Esse conceito se conjuga com o próprio conceito de cultura, entendida como um sistema interdependente e ordenado de atividades humanas na sua dinâmica, em que não se separam as condições do meio ambiente daquelas do fazer do homem; em que não se deve privilegiar o produto – habitação, templo, artefato, dança, canto, palavra – em detrimento das condições históricas, socioeconômicas, étnicas e ecológicos em que tal produto se encontra inserido.

O que é um acervo museológico?
O acervo museológico se constitui de bens culturais, de caráter material ou imaterial, móvel ou imóvel, que compõem o campo documental de possível interesse de um museu. É o conjunto de objetos/documentos que corresponde ao interesse e objetivo de preservação, pesquisa e comunicação de um museu. A título de exemplo, todo documento que ateste a vida e obra do escritor Guimarães Rosa apresenta interesse para o Museu Casa Guimarães Rosa – MCGR, em Cordisburgo, MG, independente de encontrar-se ou não sob a sua custódia, se constitui em acervo museológico do autor.


O que é uma coleção?
Uma coleção é um conjunto de objetos naturais e artificiais – reunidos por pessoas ou instituições – que perderam seu valor de uso, mantidos fora do circuito econômico, sujeitos à proteção especial, em local reservado para esse fim. Mas o que, de fato, caracteriza e distingue os objetos de coleções de outros conjuntos de objetos é o papel de representarem determinadas realidades ou entidades, constituindo-se em intermediários entre aqueles que olham, os espectadores, e o mundo não visível – passado, eternidade, mortos, etc. – que representam. Essa função das coleções pode ser exemplificada pela Coleção Geraldo Parreiras, do Museu Mineiro, que reúne objetos de arte sacra, na sua maioria originários de Minas Gerais, nos séculos XVIII e XIX. Materializando o passado, essa coleção expõe, aos homens do presente, objetos aos quais se atribui o papel de representar a sociedade mineradora do século XVIII, marcada pela religiosidade católica e a estética barroca. 

O que é um inventário?
Um inventário é a metodologia de pesquisa que constitui o primeiro passo na atividade de conhecimento, de salvaguarda e de valorização dos bens culturais de um acervo, consistindo na sua descrição individual, padronizada e completa, para fins de identificação, classificação, análise e conservação.


O que é conservação?
Conservação é o conjunto de medidas destinado a conter as deteriorações de um objeto ou resguardá-lo de danos. De maneira geral, é sinônimo de preservação, mas, dentro do universo dos museus, diferencia-se pelo caráter mais específico, pressupondo-se uma materialidade. Identifica-se com os trabalhos de intervenções técnicas e científicas, periódicas ou permanentes, repetidos e continuados, aplicados diretamente sobre uma obra ou seu entorno, com o objetivo de prolongar sua vida útil e sua integridade.


O que é exposição?
Uma exposição é a exibição pública de objetos organizados e dispostos com o objetivo de comunicar um conceito ou uma interpretação da realidade. Pode ser de caráter permanente ou temporário, fixa ou itinerante.


O que é curadoria?
Curadoria é a designação genérica do processo de concepção, organização e montagem da exposição pública. Inclui todos os passos necessários à exposição de um acervo, quais sejam: conceituação, documentação e seleção do acervo, produção de textos, publicações e planejamento da disposição física dos objetos. Refere-se também ao cargo ou função exercida por aquele que é responsável por zelar pelo acervo de um museu.


O que é reserva técnica?
É o espaço físico utilizado para o armazenamento das peças do acervo de um museu, quando essas peças não estão em exposição. A guarda de um acervo demanda uma reserva técnica, com condições físicas adequadas, condições climáticas estáveis e condições de segurança apropriadas à conservação das obras.


Como criar um museu?
Um museu é uma instituição pública ou privada definida juridicamente. Grande parte dos museus surgiu de coleções, mas atualmente eles surgem da definição de um conceito expresso em um planejamento museológico. A publicação da Superintendência de Museus, Cadernos de Diretrizes Museológicas, poderá auxiliar a criação de um museu. Nela você encontrará informações sobre o planejamento museológico e um modelo de lei de criação de um museu.


Como registrar um Museu Municipal?
O projeto de implantação de um museu municipal deve ser respaldado por lei específica. O texto da lei deve conter artigos referentes aos objetivos, às finalidades, atribuições, estrutura técnico-administrativa e seu local de funcionamento. Para orientar as prefeituras sobre a criação de um museu, segue modelo de lei preparado pela Assessoria Jurídica da Secretaria de Estado da Cultura.
O que é uma Associação de Amigos do Museu?
É uma instituição privada, sem fins lucrativos e de utilidade pública, que auxilia os museus na gestão de projetos em parceria com a sociedade civil. Algumas fontes de financiamento só são possíveis com a parceria de uma Associação de Amigos.
Como criar uma Associação de Amigos do Museu?
Os museus contam com o apoio de representantes da comunidade local, que são constituídos juridicamente na forma de Associação de Amigos. Amparando o poder público na gestão dos espaços, as associações de amigos têm tido papel definidor em projetos bem sucedidos de muitos museus. A Associação de Amigos necessita de um alvará de funcionamento expedido pela prefeitura e o registro em cartório de seu estatuto. Segue um modelo de estatuto de associação de amigos.
O que é a ação educativa de um museu?
A ação educativa de um museu se constitui dos procedimentos que promovem a educação no museu, tendo o acervo museológico como centro de suas atividades. Ela visa promover a participação, reflexão crítica e transformação da realidade social integrada à apropriação de uma cultura museal. Nesse caso, deve ser entendida como uma ação cultural, que consiste no processo de mediação, permitindo ao homem apreender, em um sentido amplo, o bem cultural, com vistas ao desenvolvimento de uma consciência crítica e abrangente da realidade que o cerca. Seus resultados devem assegurar a ampliação das possibilidades de expressão dos indivíduos e grupos nas diferentes esferas da vida social. Concebida dessa maneira, a ação educativa nos museus promove sempre benefício para a sociedade, determinando, em última instância, o papel social dos museus.


O que é musealização?
A musealização é uma das formas de preservar o patrimônio cultural, realizada pelo museu. Constitui a ação, orientada por determinados critérios e valores, de recolher, conservar e difundir objetos como testemunhos do homem e do seu meio. Processo que pressupõe a atribuição de significado aos artefatos, capaz de conferir-lhes um valor documental ou representacional.


O que é museografia?
A museografia é o campo do conhecimento responsável pela execução dos projetos museológicos. Através de diferentes recursos – planejamento da disposição de objetos, vitrines ou outros suportes expositivos, legendas e sistemas de iluminação, segurança, conservação e circulação – a museografia torna possível apresentar o acervo, com o objetivo de transmitir, através da linguagem visual e espacial, a proposta de uma exposição.


O que é museologia?
É a disciplina que tem por objeto o estudo de uma relação específica do homem com a realidade, ou seja, do homem/sujeito que conhece com os objetos/testemunhos da realidade, no espaço/cenário museu, que pode ser institucionalizado ou não. Nas últimas décadas, com a renovação das experiências no campo da museologia, o entendimento corrente de que se trata da ciência dos museus, que se ocupa das finalidades e da organização da instituição museológica, cede lugar a novos conceitos, além do descrito acima, tais como, estudo da implementação de ações de preservação da herança cultural e natural ou estudo dos objetos museológicos. 

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Como fazer um fichamento

Fichamento é uma forma de investigação que se caracteriza pelo ato de fichar (registrar) todo o material necessário à compreensão de um texto ou tema. Para isso, é preciso usar fichas que facilitam a documentação e preparam a execução do trabalho. Não só, mas é também uma forma de estudar / assimilar criticamente os melhores texto / temas de sua formação acadêmico-profissional.
O fichamento elaborado pela nossa equipe apresenta os seguintes dados:
1. Indicação bibliográfica – mostrando a fonte da leitura (cf. ABNT)
2. Resumo – sintetizando o conteúdo da obra. Trabalho que se baseia no esquema (na introdução pode fazer uma pequena apresentação histórica ou ilustrativa).
3. Citações – apresentando as transcrições significativas da obra.
4. Comentários – expressando a compreensão crítica do texto, baseando-se ou não em outros autores e outras obras.
5. Ideação – colocando em destaque as novas idéias que surgiram durante a leitura reflexiva.
Se você tiver o livro será necessário enviá-lo pelo correio ou poderá optar por comprar o livro e após a elaboração do serviço o mesmo será enviado pelo correio para seu endereço. O material também poderá ser enviado por fax ou e-mail.

Conheça agora mesmo como desenvolvemos Resumos, acessando o arquivo abaixo.

Observação: Esses trabalhos foram colocados à disposição com permissão do cliente e o mesmo segue a formatação estipulado por ele.

Este texto foi estrado do site CONTEÚDO ACADÊMICO 

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Seminário promove discussão sobre cultura afro e indígena no Campus Itapetinga

O Campus Itapetinga do IF Baiano promove o I Seminário sobre Cultura Afro e Indígena nos dias 19 e 20 de novembro. O evento conta com uma programação variada, composta por mesas redondas, ciclo de oficinas, conferências e atividades culturais.
O objetivo do Seminário é ampliar as discussões sobre as temáticas afro e indígena na unidade, além de fomentar a reflexão acerca das questões identitárias e da discriminação racial no Brasil.
Conforme Rosemeire Oliveira Nascimento, professora e integrante da comissão organizadora do evento, esse seminário é importante por abrir a discussão sobre afrodescendências e também sobre outras identidades.  “As atividades do seminário são a culminância de uma série de outras atividades que estão acontecendo no campus. Como por exemplo, um dia de capacitação com os docentes sobre essa temática”, explica Nascimento.
Além dessas atividades, são desenvolvidas discussões dia a dia nas salas de aula sobre as questões de afrodescendência e das características indígenas na identidade brasileira.
Sobre o 20 de novembro
Nesse dia é comemorado o Dia da Consciência Negra no Brasil e é um momento dedicado ao debate sobre a inclusão sócio-racial do/a negro/a na sociedade contemporânea. A data coincide com a morte do mártir negro Zumbi dos Palmares – um dos ícones da resistência escrava no período colonial brasileiro.
Durante a semana do dia 20 de novembro, uma série de eventos é promovida em todo o país. E, seguindo essa posição política, o IF Baiano também está incluído no calendário de eventos que celebram a Consciência Negra.
Duas leis foram sancionadas pelo Ministério da Educação que obrigam o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e dos Povos Ameríndios em todas as escolas do país. As leis pretendem promover a educação das relações étnico-raciais. A lei n° 10.639 de 2003 foi alterada para incluir a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Indígena. Atualmente, a lei que determina essas diretrizes é a de n° 11.645 de 2008.
Rosemeire avalia a Lei que obriga o ensino da história da África nas escolas como algo que deve ser encarado não só como obrigatoriedade. Segundo ela, “a lei surgiu de muita luta das entidades e que, na verdade, ela vem acontecer agora como contemplação de todas essas batalhas que foram travadas por diversos setores da luta social”.

O que? I Seminário sobre Cultura Afro e Indígena
Onde? Campus Itapetinga
Quando? 19 e 20 de novembro
Quanto? Gratuito

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Lampião

Existe uma grande polêmica em torno desse personagem fantástico que foi Lampião . Quem foi? Um bandido sanguinário, assassino e perverso? Um homem revoltado? Um justiceiro? Herói? Como conseguiu sobreviver tanto tempo lutando contra sete estados com poucos homens?
Na realidade muitas histórias se contam sobre ele, sua vida e suas andanças. Sanfoneiro, repentista, cantador, poeta, místico, muitas vezes juiz outras enfermeiro e até dentista, Virgulino gozou do respeito e da admiração da maioria da população pobre e oprimida do Nordeste. Odiando a injustiça e o poder sufocante do coronelismo, imperante na região, Lampião era a referência do povo contra os poderosos. Bandeou-se para o cangaço, por ser essa a única opção daqueles que, vítimas da perseguição dos poderosos coronéis, queriam lutar ou vingar-se de alguma forma.
Homem de fibra, coragem, inteligência superior, grande estrategista militar, exímio atirador e disposto a fazer justiça com as próprias mãos, semeou o terror contra seus inimigos em suas andanças pelos estados de: Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Sergipe.
Apesar das agruras da vida de cangaceiro, conseguia ser alegre, festeiro, protetor de sua família perseguida, um homem de fé e esperança .
Pelas inúmeras pessoas que matou e feriu, angariou o ódio de muitos e até de familiares, que, por sua causa, foram mais perseguidos, muitos mortos ou com suas vidas arrasadas pelas volantes da polícia.

Lampião Capitão Virgulino

Lampião

Em 04 de junho de 1898 nasceu Virgulino Ferreira da Silva, na fazenda Ingazeira de propriedade de seus pais, no Vale do Pajeú, em Pernambuco, terceiro filho de José Ferreira da Silva e D. Maria Lopes. Seus pais casaram no dia 13 de outubro de 1894, na Matriz do Bom Jesus dos Aflitos, em Floresta do Navio, tendo seu primeiro filho em agosto de 1895, que chamaram Antônio em homenagem ao avô paterno. O segundo filho nasceu dia 07 de novembro de 1896, e foi chamado de Livino. Depois de Virgulino, o casal teve mais seis filhos, quase que ano a ano que foram: Virtuosa, João, Angélica, Maria (Mocinha), Ezequiel e Anália.
Virgulino foi batizado aos três meses de nascido, na capela do povoado de São Francisco, sendo seus padrinhos os avós maternos: Manuel Pedro Lopes e D. Maria Jacosa Vieira. A cerimônia foi oficiada por Padre Quincas, que profetizou:
- "Virgulino - explicou o padre - vem de vírgula, quer dizer, pausa, parada." E arregalando os olhos: - "Quem sabe, o sertão inteiro e talvez o mundo vão parar de admiração por ele".
Quando menino viveu intensamente sua infância, na região que chamava carinhosamente de meu sertão sorridente! Bricava nos cerrados, montava animais, pescava e nadava nas águas do riacho, empinava papagaio, soltava pião e tudo o mais que fazia parte dos folguedos de seu tempo de menino.
A esperteza do menino o fez cair nas predileções de sua avó e madrinha que aos cinco anos o levou para a sua casa, a 150 metros da casa paterna.
À influência educativa dos pais, que nunca cessou, acrescentou-se a desta senhora - a "Mulher Rendeira" - a quem o menino admirava quando ela, com incrível rapidez das mãos, trocando e batendo os bilros na almofada e mudando os espinhos e furos, tecia rendas e bicos de fino lavor
A primeira comunhão de Virgulino foi aos sete anos na capela de São Francisco, em 1905, juntamente com os irmãos Antônio (dez anos) e Livino (nove anos). A crisma aconteceu em 1912, aos quatorze anos e foi celebrada pelo recém empossado primeiro bispo D. Augusto Álvaro da Silva, sendo padrinho o Padre Manuel Firmino, vigário de Mata Grande, em Alagoas.
No lugar onde nasceu não havia escola e as crianças aprendiam com os mestres-escola , que ensinavam mediante contrato e hospedagem, durante períodos de três a quatro meses nas fazendas.Seu aprendizado com foi os professores Justino Nenéu e Domingos Soriano Lopes.
Ainda menino já trabalhava, carrregando água, enchiqueirando bodes, dando comida e água aos animais da fazenda, pilando milho para fazer xerém e outras atividades compatíveis com sua idade. Mais tarde, jovem, robusto passou aos trabalhos de gente grande: cultivava algodão, milho, feijão de corda, abóbora, melancia, cuidava da criação de gado, e dos animais. Posteriormente tornou-se vaqueiro e feirante .
Seu alistamento eleitoral e de seus dois irmãos Antônio e Livino foi feito em 1915 por Metódio Godoi, apesar de não terem ainda os 21 anos exigidos por lei. Sabe-se que votaram três vezes: em 1915, 1916 e 1919.
A vida amorosa dos três irmãos era como a de qualquer jovem de sua idade, e se não houvessem optado pela vida de cangaceiro, certamente teriam cada um constituído sua família e tido um lar estável como foi o de seus familiares. Até entrar para o cancaço, Virgulino e seus irmãos eram pessoas comuns, pacíficos sertanejos, que viviam do trabalho (trabalhavam muito como qualquer sertanejo) na fazenda e na feira onde iam vender suas mercadorias. Virgulino Ferreira da Silva na certa seria sempre um homem comum, se fatos acontecidos com ele e sua família (que narraremos na página "Porque Virgulino entrou para o cangaço") não o tivessem praticamente obrigado a optar pelo cangaço como saída para realizar sua vingança. Viveu no cangaço durante anos, vindo a falecer numa emboscada no dia, na fazenda Angicos, no estado de Alagoas.

A Mulher Rendeira

Virgulino, por ser muito esperto, atraiu a predileção de sua avó e madrinha de batismo, D. Maria Jacosa. Quando o menino completou cinco anos de idade, levou-o para morar em sua casa.
O menino espantava-se com a rapidez com que sua avó trocava e batia os bilros na almofada, mudando os espinhos nos furos, tecendo rendas e bicos de refinado gosto.
Virgulino foi educado tanto pelos pais quanto pela avó, a mulher rendeira. A casa da avó ficava a cento e cinquenta metros da casa paterna e, o menino brincava no terreiro das duas casas.Mais tarde, em homenagem a sua avó, comporia a música que serviria de hino de guerra para suas andanças: "mulher rendeira".
"Houve grande empenho em destruir a memória de Lampião .
Primeiro, arrasaram-lhe na Ingazeira a casa paterna e natal e a dos avós maternos, deixando unicamente restos dos torrões dos alicerces." (Frederico Bezerra Maciel)

Porque Lampião era chamado de Capitão?

Muito curiosa a história de sua patente de oficial do exército, obtida do governo federal.
No início do ano de 1926, a Coluna Prestes percorria o Nordeste em sua peregrinação revolucionária, trazendo apreensão aos governantes e colocando em risco a segurança da nação segundo avaliação do governo central.
Em meados de janeiro, estavam prontos para entrar no Ceará. A tarefa de organizar a defesa do estado coube, em parte, a Floro Bartolomeu, de Juazeiro. A influência de Floro, perante todo o país, devia-se ao seu estreito relacionamento com o Padre Cícero Romão. Por sugestão do Padre Cícero, só havia em todo Nodeste uma pessoa que poderia combater a Coluna e sair-se bem da empreitada. Indicou então o nome de Virgulino.
Floro reuniu uma força de combate, composta, em sua maioria, de jagunços do Cariri. Os Batalhões Patrióticos, como foram chamados, ganharam armas dos depósitos do exército, porque tinham apoio material e financeiro do governo federal.
A tropa, organizada, foi levada por Floro a Campos Sales, no Ceará, onde se esperava a invasão. Floro mandou uma carta a Virgulino, convidando-o a fazer parte do batalhão.
O convite foi aceito nos primeiros dias de março, quando a Coluna Prestes já estava na Bahia. Em virtude da doença e posterior morte de Floro, em 8 de março, coube ao Padre Cícero a recepção a Lampião .
Lampião chegou à vizinhança de Juazeiro no princípio de março de l926. Só atendeu ao convite porque reconheceu a assinatura de Cícero no documento. Acompanhado por um oficial dos Batalhões Patrióticos, entrou na comarca de Juazeiro em 03 de março, tendo os cangaceiros uma conduta exemplar. Prometeram a ele, o seu perdão e o comando de um dos destacamentos , caso aceitasse contaber os revoltosos. Lampião e seu bando, entrou na cidade no dia 04 de março. Na audiência com o Padre Cícero, foi lavrado um documento, assinato por Pedro de Albuquerque Uchôa, inspetor agrícola do Ministério da Agricultura, nomeando Virgulino capitão dos Batalhões Patrióticos. Esse documento dava livre trânsito a Lampião e seu grupo, de estado a estado, para combater a coluna.
Receberam uniformes, armamentos e munição para o combate.
Lampião já tinha pensado muitas vezes em deixar o cangaço. Sem dúvida, aquela era uma grande oportunidade, proporcionada pelo seu protetor e padrinho Padre Cícero. Estava disposto a cumprir sua parte no trato e todas as promessas feitas ao Padre.
Daquele momento em diante, passou a chamar a si próprio de "Capitão Virgulino".

Maria Bonita

Até 1930, ou início de 31, não se tem registro da existência da mulher no Cangaço.
Aparentemente, Lampião foi o primeiro a arranjar uma companheira. Maria Déia, que ficou conhecida posteriormente como Maria Bonita, foi a companheira de Virgulino até a morte de ambos. Maria Bonita chamava-se Dona Maria Neném, e era casada com José Nenem. Foi criada na pequena fazenda, de propriedade de seu pai, em Jeremoabo/Bahia e vivia em companhia do marido na cidadezinha de Santa Brígida. Maria não tinha bom relacionamento com o marido.
Lampião costumava passar várias vezes pela fazenda dos pais de Maria, porque a mesma ficava na fronteira entre Bahia e Sergipe. Os pais de Maria Bonita, sentiam pelo Capitão uma mistura de respeito e admiração. A mãe contou a Lampião que sua filha era sua admiradora. Um dia, ao passar pela fazenda, Virgulino encontrou Maria e apaixonou-se à primeira vista. Dias depois quando o bando retirou-se, já contava com a presença dela ao lado de Lampião , com o consentimento de sua mãe.
Maria Bonita representava o típo físico da mulher sertaneja: baixa, cheinha, olhos e cabelos escuros, dentes bonitos, pele morena clara. Era uma mulher atraente.

Governador do Sertão

Durante o tempo em que esteve preso por Lampião , Pedro Paulo Magalhães Dias (ou Pedro Paulo Mineiro Dias), inspetor da STANDAR OIL COMPANY (ESSO), conhecido como Mineiro, testemunhou a vida dos cangaceiros e traçou o perfil de Virgulino, segundo sua avaliação.
Lampião pediu à empresa um resgate de vinte contos de réis pelo prisioneiro e acertou que se o resgate não fosse pago, mataria Mineiro. Mineiro viveu os dias de cativeiro, atormentado por terrível temor de ser morto por Lampião . Finalmente, percebendo o estado de espírito do prisioneiro, Virgulino tranquilizou-o afirmando:
- "Se vier o dinheiro eu solto, se não vier eu solto também, querendo Deus".
Resolveu libertar Mineiro, antes porém, teve uma longa conversa com ele.
Falou para Mineiro, por sentir-se naquele momento Senhor Absoluto do Sertão, que poderia ser Governador do Sertão. Mineiro perguntou-lhe, caso fosse governador, que planos teria para governar.Ficou surpreso com as respostas, que revelaram ter Virgulino conhecimento da situação política da região, conhecento seus problemas mais urgentes.
Lampião afirmou:
- "Premero de tudo, querendo Deus, Justiça! Juiz e delegado que não fizer justiça só tem um jeito: passar ele na espingarda!
Vem logo as estradas para automóvel e caminhão!
- Mas, o capitão não é contra se fazer estrada? - objetou Mineiro.
- Sou contra porque o Governo só faz estrada pra botar persiga em cima de mim. Mas eu fazia estrada para o progresso do sertão. Sem estrada não pode ter adiantamento, Fica tudo no atraso.
Vem depois as escolas e eu obrigava todo mundo a aprender, querendo Deus.
Botava, também, muito doutor (médico) para cuidar da saúde do povo.
Para completar tudo, auxiliava o pessoal do campo, o agricultor e o criador, para ter as coisas mais barato, querendo Deus" (Frederico Bezerra Maciel).
Mineiro ouviu e concordou com Virgulino. O que acabara de ouvir representava uma parte da sabedoria do cangaceiro.
Lampião então, senhor de si, ditou para Mineiro, uma carta para o governador de Pernambuco, com a seguinte proposta:
" Senhor Governador de Pernambuco.
Suas saudações com os seus.
Faço-lhe esta devido a uma proposta que desejo fazer ao senhor pra evitar guerra no sertão e acabar de vez com as brigas... Se o senhor estiver de acordo, devemos dividir os nossos territórios. Eu que sou Capitão Virgulino Ferreira Lampião , Governador do sertão, fico governando esta zona de cá, por inteiro, até as pontas dos trilhos em Rio Branco. E o senhor, do seu lado, governa do Rio Branco até a pancada do mar no Recife. Isso mesmo. Fica cada um no que é seu. Pois então é o que convém. Assim ficamos os dois em paz, nem o senhor manda os seus macacos me emboscar, nem eu com os meninos atravessamos a extrema, cada um governando o que é seu sem haver questão. Faço esta por amor à Paz que eu tenho e para que não se diga que sou bandido, que não mereço.
Aguardo resposta e confio sempre.
Capitão Virgulino Ferreira Lampião , Governador do Sertão.
Seria Mineiro o portador dessa carta, colocada em envelope branco, tipo comercial, com a subscrição:
- Para o Exº Governador de Pernambuco - Recife" (Frederico Bezerra Maciel)
Mineiro notou que quase todos os cangaceiros eram analfabetos. Lampião sabia ler bem, mas escrevia com muita dificuldade. Antonio Ferreira lia com dificuldade e não escrevia. Apenas Antônio Maquinista, ex-sargento do Exército, sabia ler e escrever.
Enfim Lampião solta Mineiro, num ato que se transformou em festa, com muitos discursos e a emoção dos participantes.
Mineiro reconheceu nos cangaceiros, pessoas revoltadas contra a situação de abandono do sertão. Agradeceu a Deus os dias que passou na companhia de Lampião e seus cabras. Teceu elogios a Virgulino por sua personalidade capaz e inteligente. Afirmou que levava a melhor impressão de todos e que iria propagar, que o capitão e os seus, não eram o que diziam deles.
Lampião pediu então a Mineiro que dissesse ao mundo a verdade.
Despediu-se mineiro de todos, abraçando um por um os cangaceiros:
Luís Pedro, Maquinista, Jurema, Bom Devera, Zabelê, Colchete, Vinte e dois, Lua Branca, Relâmpago, Pinga Fogo, Sabiá, Bentevi, Chumbinho, Az de Ouro, Candeeiro, Vareda, Barra Nova, Serra do Mar, Rio Preto, Moreno, Euclides, Pai Velho, Mergulhão, Coqueiro, Quixadá, Cajueiro, Cocada, Beija Flor, Cacheado, Jatobá, Pinhão, Mormaço, Ezequiel Sabino, Jararaca, Gato, Ventania, Romeiro, Tenente, Manuel Velho, Serra Nova, Marreca, Pássaro Preto, Cícero Nogueira, Três cocos, Gaza, Emiliano, Acuana, Frutuoso, Feião, Biu, Sabino
Fonte: www.geocities.com
Lampião

VIRGULINO FERREIRA DA SILVA

"Olê mulher rendeira / Olê mulher rendá / Tu me ensina a fazer renda / Que eu te ensino a namorar." Esses versos, quando soavam no sertão nordestino dos anos 20 e 30, podiam ser prenúncio de muito sangue - ou de muita festa. Lampião e seu bando entravam nas vilas cantando. Se a população negasse o que queriam - dinheiro, comida, apoio -, eles revidavam.
Seqüestravam crianças, incendiavam fazendas, matavam rebanhos, estupravam, assassinavam e torturavam. Se fossem atendidos, organizavam bailes e davam esmolas. Por isso, quando ouvia Mulher Rendeira, que aliás é de autoria de Lampião , a gente sertaneja oscilava entre o pavor e a curiosidade. Ou fugia ou ia espiar pelas frestas, para ver aquele cuja fama já fascinava o país.
Apesar de terem sido cenários de barbaridades praticadas por Lampião , duas cidades nordestinas querem erguer estátuas em sua homenagem. E a população aprova. A imagem de herói supera a de facínora.

Mais mito que verdade

No interior do Pernambuco, o culto já exige monumentos. No dia 7 de julho, quando, segundo o Registro Civil, se comemoram 100 anos do nascimento de Lampião , o município de Triunfo lançará a pedra fundamental de uma estátua de 32 metros de altura para homenageá-lo. Com o apoio do povo. Triunfo segue o exemplo da vizinha Serra Talhada, ex-Vila Bela, terra natal do cangaceiro, que, em 1991, organizou um plebiscito para saber se ele merecia uma honraria dessas. O resultado foi sim e a estátua só não existe ainda por falta de verbas.
Bem antes de morrer, Lampião já inspirava poemas, músicas e livros. Uma propaganda de remédio chegou a comparar os males que ele causava à sociedade com os distúrbios provocados pela prisão de ventre. Mas a referência ao cangaceiro como figura nociva era exceção. Em geral, ele era tratado como herói, um nobre salteador, que tomava dos ricos para dar aos pobres. Em 1931, o mais importante jornal americano, The New YorkTimes, divulgou essa versão caridosa do criminoso.
Com o tempo, o mito só cresceu. Este ano serão lançados mais três filmes (Corisco e Dadá, O Cangaceiro e O Baile Perfumado) e uma novela (Mandacaru, na Rede Manchete) sobre Lampião . Isso sem falar nos livros. E muitas dessas obras continuam mistificando o bandido, como se houvesse algum glamour em sua biografia.

O começo de uma carreira de horrores

Lampião inspirou muita literatura, mas não foi a origem da palavra cangaço. No século XIX, ela já designava bandoleiros nordestinos que carregavam o rifle deitado sobre os ombros, lembrando a canga, arreio de madeira que vai sobre o pescoço dos bois, e o nome pegou. Canga, cangaço, cangaceiro.
O pernambucano Cabeleira, nascido em 1751, foi o primeiro a virar mito. Acabou enforcado. Lucas da Feira, de 1807, também foi executado, mas antes viajou ao Rio para estar com
D. Pedro II, que desejava conhecê-lo. Depois vieram Jesuíno Brilhante, Meia Noite, Antonio Silvino e Sinhô Pereira. Foi no bando deste último que Virgulino Ferreira da Silva ingressou, aos 24 anos.
Filho de um pequeno proprietário rural, o rapaz sabia ler e era hábil artesão em couro. Mas entortou sua biografia em l 915, quando acusou um empregado do vizinho José Saturnino de roubar uns bodes.
A rixa entre as famílias durou anos. Em 1919, Virgulino e dois irmãos, Livino e Antônio, caíram no crime. Matavam gado do inimigo e assaltavam.
No encalço dos três irmãos, a polícia prendeu um quarto, o inocente João. O pai, José Ferreira, fugiu. No caminho, hospedou-se na casa de um amigo, onde foi morto pela polícia. Virgulino, diz a lenda, jurou: "De hoje em diante vou matar até morrer "

Crueldades varrem o Sertão

Não dá para enumerar as atrocidades cometidas por Lampião . Sob o escudo da vingança, ele tornou-se um "expert" em "sangrar" pessoas, enfiando-lhes longos punhais corpo adentro entre a clavícula e o pescoço. E consentiu que marcassem rostos de mulheres com ferro quente, Arrancou olhos, cortou orelhas e línguas. Castrou um homem dizendo que ele precisava engordar.
Não há nada que justifique práticas assim. Mas muitos pesquisadores tentam explicá-las. " Lampião é um produto do seu meio", arrisca Paulo Medeiros Gastão, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço, com sede em Mossoró (RN). "Ele foi levado por fatores ligados à vida no sertão, como ignorância, secas, ausência de governo e de Justiça", diz Gastão. Mas argumentos assim, alegados por muitos estudiosos, não são suficientes para entender Lampião . É o que garante o historiador americano Billy Jaynes Chandler, especialista do assunto: "Sua história, com todas as suas excentricidades, é toda dele".
O ambiente em que o bandido cresceu, porém, tem seu peso. De acordo com Vera Lúcia F. C. Rocha, da Universidade Estadual do Ceará, "o código de honra do sertão não culpabiliza os homens que matam por vingança, mas enaltece sua coragem". Vera, que acaba de lançar o livro Cangaço: Um Certo Modo de Ver, lembra que aquela sociedade repete para os meninos: "Seja homem". Será que era a essa expectativa que Virgulino Ferreira tentava atender?
Ele não tinha compromisso com classes sociais, embora tenha surgido num ambiente de injustiça. Era amigo de qualquer um que o apoiasse e inimigo dos que o contrariavam.
Fossem coronéis ou miseráveis.
Nada a ver com Robin Hood
Não são poucos os que vêem em Lampião um Robin Hood nordestino. "Ele foi bandido, mas também teve atitudes de distribuir o que tomava", diz o pesquisador Antônio Amaury C. de Araújo, de São Paulo, que escreveu seis livros sobre o cangaço. É, houve passagens assim. Em 1927, o bando entrou em Limoeiro do Norte (CE) jogando moedas para as crianças. Cena semelhante acontecera em Juazeiro, quando, num dos mais absurdos episódios da história brasileira, o bandido foi convocado para combater a Coluna Prestes (veja o infográfico).
"Mas Lampião nunca escolheu aliados em função da classe social", diz o antropólogo Villela. "Pobres e ricos, oprimidos e opressores, todos eram bons desde que satisfizessem suas exigências. Todos eram inimigos desde que se opusessem a seus propósitos."
O historiador inglês Eric Hobsbawm chegou a classificá-lo como um "bandido social" - não exatamente um Robin Hood, mas um tipo vingador. "Sua justiça social consiste na destruição", disse Hobsbawm, que foi criticado pela avaliação. Billy Chandler, por exemplo, acha que Lampião só poderia ser considerado um bandido social por ter raízes em um ambiente injusto, nunca por se preocupar com a justiça social.
Villela concorda. Para ele, Lampião resistiu a um tipo de migração vergonhosa, a migração do medo, que empurrava para longe gente ameaçada por inimigos ou pela policia. Para não passar por covarde, assumiu o nomadismo e a violência. As boas ações seriam um "escudo ético", na opinião de Frederico Pernambucano de Mello, superintendente de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife. Lampião , apesar de perverso, queria ser visto como um homem bom.
Como o país armou Lampião Para combatera Coluna Prestes, marcha de militares revoltosos comandados pelo Capitão Luís Carlos Prestes, que depois tomou-se líder comunista, o governo se aliou ao cangaceiro em 1926.
Janeiro: o bandido é convocado
Com a coluna se aproximando do Ceará, Floro Bartolomeu, deputado federal do Estado, recruta uma força de defesa, os Batalhões Patrióticos, e vai com ela para Campos Sales (CE). Prepara uma carta convocando Lampião e a manda para o Padre Cícero endossar. Um mensageiro vai atrás de Lampião . Enquanto isso, Bartolomeu, adoentado, segue para o Rio.
Fevereiro: confusão entre inimigos
Aparentemente sem ter recebido a carta de Bartolomeu, Lampião cuida de seus interesse pessoais em Pernambuco. Invade a fazenda de um antigo inimigo, mata dois, fere dois e incendeia a casa. Saindo desse ataque, no mesmo dia, tem um combate com a coluna, mas pensa que está lutando com a polícia.
Março: defensor público por pouco tempo
Lampião recebe a carta e segue para Juazeiro. Acampa com 49 homens perto da cidade e mais de 4 000 curiosos vão vê-lo. No dia 5, se encontra com o Padre Cícero e recebe uma patente de capitão dos Batalhões Patrióticos, assinada, acredite, por um funcionário do Ministério da Agricultura. Mais tarde esse homem diria que, naquelas circunstâncias, assinaria até exoneração do presidente. Todos os cangaceiros recebem uniformes e fuzis automáticos. No dia 8, Floro morre.
Lampião parte decidido a cumprir o combinado, mas é perseguido em Pernambuco, o que o desaponta. Volta para falar com o Padre Cícero. Como este não o recebe, interrompe sua carreira de defensor público e retoma a rotina de crimes.
Apoio logístico de primeira
A formação que Lampião teve em casa valeu muito para sua brilhante atuação no cangaço. Com uma tropa de burros, sua família fazia frete de mercadorias. Virgulino aprendeu bastante sobre caminhos e viagens longas no trabalho com o pai. Além disso, conheceu muita gente do sertão. E tantos contatos acabariam sendo preciosos mais tarde.
A rede de apoio que ele tinha era fantástica, embora não fosse formada só de amigos. O historiador cearense Abelardo Montenegro definiu três tipos de carteiros, como eram chamados aqueles que davam proteção ao bandido: o involuntário, que tinha medo, o vingador, que queria usar seus serviços, e o comerciante, que visava lucro. De acordo com a também cearense Vera Rocha, para a polícia havia só dois tipos: os ricos, que queriam proteger suas propriedades, o que era considerado compreensível, e os pobres, que o admiravam, o que era inadmissível.
Na verdade, ninguém tinha coragem de negar ajuda ao cangaceiro. E todo mundo também morria de medo da polícia. Em 1932, quando a repressão acirrou, as volantes, tropas andarilhas, transformaram-se num terror. "Quem tivesse 16, 17 ou 18 anos tinha que se alistar no cangaço ou na volante, senão ficava à mercê dos dois"', costuma dizer Criança, ex-cangaceiro que mora hoje no litoral paulista.
Os coronéis não tinham esse problema. Lampião chegou a ser amigo do capitão Eronides Carvalho, médico do Exército que se tornaria governador de Sergipe em 1934. O próprio confessou, anos depois, ter arranjado, mais de uma vez, munição para o bando.
Nos intervalos entre um crime e outro, os cangaceiros rezavam e se divertiam. Organizavam bailes, para os quais se perfumavam exageradamente. Antes da entrada das mulheres no bando, homens dançavam com homens mesmo.
Em paz, somente com Deus
Em meio ao sangue, Lampião achava lugar para a religião. Nos acampamentos, rezava o ofício, espécie de missa. Carregava livros de orações e pregava fotos do Padre Cícero na roupa. Em várias das cidades que invadiu chegou a ir à igreja, onde deixava donativos fartos, exceto para São Benedito. "Onde já se viu negro ser santo?", dizia, demonstrando seu racismo. Supersticioso, andava com amuletos espalhados pela roupa. Levou sete tiros e perdeu o olho direito, mas acreditava-se que tinha o corpo fechado.
Em tempos de calmaria, os cangaceiros dividiam o tempo entre a fé e o prazer. Jogavam cartas, bebiam, promoviam lutas de homens e de cachorros, faziam versos, cantavam, tocavam e organizavam bailes. Para essas ocasiões se perfumavam muito. Mello informa que Lampião tinha preferência pelo perfume francês Fleur d'Amour. Balão, que viveu os últimos anos do cangaço, contou antes de morrer que eles usavam mesmo era Madeira do Oriente, bem mais popular. Há relatos de que os bandoleiros perfumavam até os cavalos quando andavam montados .
Em 1929, na cidade de Capela, Sergipe, Lampião pesou seu equipamento. Sem as armas e com os depósitos de água vazios, deu 29 quilos. E isso também não incluía a roupa, grossa o suficiente para protegê-lo dos espinhos da caatinga. O figurino inteiro era de grande valia. Ao lado, ele é mostrado por Corisco, um dos homens de confiança de Lampião , que tinha seu próprío bando, e sua mulher Dadá. Não é à toa que quando começaram a construir estradas no Sertão, Lampião ficou furioso, a ponto de matar muitos trabalhadores inocentes. Ele não precisava de estradas e sabia que elas seriam o seu fim.
Jeito estranho de constituir família
Muito se fala que Lampião respeitava as mulheres. Mas parece que não era bem assim. Consta que em 1923, num lugar chamado Bonito de Santa Fé (PB), ele deu início ao estupro coletivo da mulher de um delegado. Eram 25 homens. "Tirei muita mocinha das mãos de companheiros", conta Ilda Ribeiro de Souza, a Sila, 73 anos, a viúva do cangaceiro José Sereno, que vive em São Paulo.
O líder também mandava marcar a ferro moças que usassem cabelos ou vestidos curtos. É possível que Maria Déa, a Maria Bonita, não soubesse dessas histórias quando se apaixonou por ele. Ela o conheceu em 1929 e, em 1930, deixou o marido, o sapateiro José Neném, para segui-lo. Assim, abriu as portas para a entrada de mulheres no bando. Segundo Frederico de Mello, era uma época de "mais idade, menos guerra e mais limpeza". Alguns estudiosos acreditam que as mulheres rivalizaram com as armas, desviando os homens da concentração militar. Teriam sido responsáveis pelo fim do cangaço.
De fato, algum problemas surgiram, como o nascimento de crianças. A solução foi dá-las para padres ou fazendeiros. Quando morria um companheiro, a viúva tinha de arranjar novo par. Por duas vezes isso não deu certo e a saída foi executar as mulheres. Rosinha e Cristina foram assassinadas para não ameaçar o grupo. Outro drama era o adultério. Lídia e Lili morreram por trair seus companheiros.
É curioso notar como, apesar de atitudes extremamente conservadoras com as mulheres, Lampião chegava a ser moderno em outros aspectos. Mandava cartas com papéis que tinham seu nome datilografado, tremenda novidade na região. De acordo com Mello, preocupado com falsificação de correspondência - houve quem tentasse se passar por ele para levantar um dinheirinho - mandou fazer cartões de visita com sua foto. E tinha até garrafa térmica. De um certo ponto de vista, pode-se dizer que levava uma vida sofisticada.
As táticas de guerrilha e a abundância de munição, conseguida com a própria polícia, ajudavam Lampião nos combates. Não há números certos, mas alguns estudos estimam que na guerra do cangaço houve pelo menos l 000 baixas.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ONG faz protesto com 594 vassouras contra a corrupção em Brasília

VEJA FOTOS! A manifestação da ONG Rio da Paz pretende entregar uma vassoura a cada deputado federal e senador do Congresso.

Na manhã desta quarta-feira, dia 28, o Congresso Nacional amanheceu com a exposição de 594 vassouras nas cores verde e amarela para protestar contra a corrupção. A ONG Rio da Paz é a favor da Lei da Ficha Limpa para evitar os políticos corruptos no Congresso e pede por uma limpeza no Parlamento brasileiro.

O carioca Antônio Carlos Costa é presidente da ONG Rio da Paz e está por trás de diversas manifestações. Ele já participou do protesto que espalhou milhares de cruzes em Copabana para simbolizar a violência e também de uma manifestação em Brasília que espalhou 15 mil lenços brancos para representar o número de brasileiros assassinados nos primeiros cinco meses de 2007. A ideia deste protesto surgiu após o senador Pedro Simon afirmar que gostaria que a ONG levasse uma vassoura para ele no Congresso.

Segundo o carioca, a vassoura representa a limpeza de políticos que Brasília precisa. “A vassoura simboliza a exigência da sociedade de que o Congresso esteja ao lado do povo no combate à corrupção no Brasil”, disse o presidente da ONG. Comparando com as manifestações de violência, Antônio Carlos afirmou que a corrupção é um tipo de violência. “A corrupção mata. Na ponta, é uma forma de homicídio. É gente morrendo em filas de hospitais, policiais mal remunerados”, alegou Antônio.


As vassouras foram instaladas na noite desta terça-feira, 27, e devem permanecer no local até à tarde desta quarta-feira, 28. O grupo pretende entregar uma vassoura para cada um dos 513 deputados e 81 senadores do Congresso. “Queremos inaugurar uma nova fase da sociedade civil com o Congresso. Dizer que a corrupção vive no pior ambiente possível, gosta de escuridão, de penumbra. E o voto aberto é a luz”, completou Antônio Carlos.
Informações de Agência Brasil e O Globo
FOTO: Antonio Cruz / Agência Brasil

Assista o vídeo do Protesto das vassouras apresentado no SBT

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Marcha contra corrupção ofusca desfile do Dia da Independência em Brasília

Foto da galeria do Museu da Corrupção
A Marcha Contra a Corrupção, convocada pelas redes sociais na internet, ofuscou o desfile comemorativo do 7 de Setembro, em Brasília, historicamente marcante por causa da participação do presidente da República e das Forças Armadas.

Cerca de 25 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, caminharam ontem por uma via da Esplanada dos Ministérios para protestar contra a série de escândalos que marcam a política contemporânea brasileira. No mesmo momento, a presidente Dilma Rousseff estreava, do outro lado da rua, no papel de primeira mulher presidente a comandar a cerimônia nacional do Dia da Pátria. 

A forte segurança do 7 de Setembro impediu o contato de integrantes da marcha com participantes do desfile oficial. O sucesso do protesto ocorreu uma semana após congresso do PT demonstrar que não apoia nenhum tipo de "faxina" anticorrupção no governo e de considerar que esses movimentos eram parte de uma "conspiração midiática" e uma forma de promover a "criminalização generalizada" da base aliada ao Planalto.

A marcha evitou as referências partidárias. Membros do PSOL tentaram levar bandeiras do partido, mas foram impedidos de seguir adiante com os adereços. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) ensaiou entrar na marcha, mas, advertido, preferiu apenas acompanhá-la discretamente. 

Vestidos de preto, com narizes de palhaço, faixas e cartazes, os manifestantes criticaram a absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), na semana passada, o voto secreto no Congresso, os recentes escândalos de corrupção no governo e a manutenção do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), no comando do Legislativo. Pediram até a destituição de Ricardo Teixeira da presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Exigiram, ainda, a aplicação imediata da Lei da Ficha Limpa - que depende de julgamentos no Supremo Tribunal Federal (STF). Uma faixa vinculava o nome do ditador líbio Muamar Kadafi à política brasileira, lembrando que qualquer um pode se candidatar, independentemente da ficha criminal. "Kadafi, não importa o seu passado, no Brasil você pode ser deputado." 

Em oito meses de gestão, Dilma foi obrigada a trocar Antonio Palocci, Alfredo Nascimento e Wagner Rossi por conta do envolvimento deles em suspeitas de corrupção na Esplanada.

O protesto começou tímido no Museu Nacional de Brasília, por volta de 9h, com 2 mil pessoas, mas foi engrossando com a adesão de quem foi ao desfile oficial. No fim, ao meio-dia, na Praça dos Três Poderes, a marcha chegou a 25 mil pessoas, segundo balanço da PM. A rede social Facebook foi a principal ferramenta de convocação, observou Luciana Kalil, 30, uma das organizadoras do protesto. 

Ministros
Em um desfile rotineiro e de público reduzido, o 7 de Setembro em Brasília chamou a atenção mais pela presença de quase todos os ministros no palanque presidencial, prestigiando a estreia de Dilma Rousseff - primeira mulher presidente da República - no comando da comemoração nacional do Dia da Pátria. Pelo menos 32 ministros foram à festa, que teve um esquema de segurança reforçado por conta das manifestações contra a corrupção. 

Dilma foi ao desfile acompanhada da filha Paula e do neto Gabriel, de um ano. Apesar da presença maciça dos ministros, foi notada a ausência do vice-presidente Michel Temer, que viajou para Natal. Também não compareceram à cerimônia os presidentes do Congresso, senador José Sarney, e do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Cezar Peluso, que cobra do Executivo e do Congresso a aprovação de um reajuste salarial de quase 15% para o Judiciário. Ao contrário do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma não prestigiou a tradicional exibição da Esquadrilha da Fumaça. Assim que o último batalhão militar passou à frente do palanque presidencial, Dilma foi embora, sendo seguida pelos demais ministros. O neto Gabriel deixou o palanque às 10h05, depois de brincar muito com a avó e com a faixa presidencial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

sábado, 3 de setembro de 2011

A Raça Ariana

O termo “raça ariana” teve seu auge no século XIX até a metade do século XX, um termo que foi utilizado amplamente pelo Partido Nazista da Alemanha.

Este termo foi utilizado pela primeira vez pelo diplomata e escritor francês conde Arthur de Gobineu (1806-1882), segundo Gobineu, baseado na teoria de Friedrich von Schlegel, existia no antigo um povo, os arianos, que originaram-se na Ásia Central, migrando para o sul e para o oeste, chegando à Europa e a alguns territórios que hoje estão o Afeganistão, a Índia e o Irã.
Para Gabineu, todos os povos europeus de raça “pura” branca eram descendentes do antigo povo ariano, o povo ariano – palavra que significa “nobre” – seria o ápice da civilização.

Adolf Hitler retomou este conceito proposto por Gobineu para justificar sua política de extermínio dos Judeus e povos não-arianos. 

O ápice do extermínio foi durante a Segunda Guerra Mundial, onde médicos e cientistas nazistas chegaram a tirar medidas de alemães e macacos para comparar com outras “raças” humanas e mostrar para a população alemã que a raça ariana era realmente superior, pois tinham menos semelhanças que os primatas do que as demais raças.


Segundo cientistas atuais, esta superioridade da raça ariana foi comprovada que não é verdadeira, ou seja, é falsa. 

Ela foi utilizada apenas para induzir a população alemã que realmente eles eram superiores e justificar suas medidas de extermínio.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O vereador, suas atribuições legais e o clientelismo


Michel Adler
Apesar de ser a Constituição Federal, mãe de todas as leis, rigorosamente parlamentarista, os parlamentares em geral, e principalmente os vereadores não exercem plenamente as prerrogativas que lhes foram outorgadas pela lei máxima de todo o ordenamento jurídico brasileiro, a constituição cidadã.
O vereador, parlamentar que está mais perto do povo, ouvindo as suas mazelas e necessidades nas ruas, acostumou-se a ser um mero cabo eleitoral das candidaturas de prefeito, deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da republica.
Para exercer o seu mister de parlamentar no município, célula mãe da nação, passou a exercer o papel de “assistente social” e prestador de serviços aos mais necessitados. Nestes casos o vereador presta serviços ao beneficiado que não tem como retribuí-lo, a não ser com seu voto. Finalmente a referida mediação acaba por ter propósitos particulares, desconhecendo, o vereador, sua força legislativa, quando poderia inserir na legislação financeira do município, (Lei de Diretrizes Orçamentárias e Lei de Orçamento Anual), verbas específicas, destinadas a atender os anseios da população menos favorecida, o edil, limita-se em ser o porta voz dos pobres, para solicitar junto ao chefe do poder executivo, os pedidos dos seus eleitores, tais como cestas básicas, remédios, transportes, ajudas de custo, passagens de ônibus, assistência médica e ambulatorial, enfim, todo o tipo de ajuda, que o carente necessita, tornando-se assim o verdadeiro “assistente social” do município.
Nasce daí o fenômeno do “clientelismo” na sua relação com sua comunidade, que nada mais é, que a relação custo/benefício estabelecida pelo vereador e o seu eleitorado.
O eleitor tem suas necessidades e as apresenta ao vereador que, por sua vez, procura acatar seus pedidos através de favores que busca junto ao chefe do executivo para atender as necessidades do seu eleitorado, normalmente carente.
Neste contexto, a máquina política preenche a função básica de proporcionar caminhos de mobilidade social àqueles que, de algum modo, ficaram em desvantagem, ficando assim estabelecido o “clientelismo” entre os eleitores, clientes e o vereador “assistente social” da sua “clientela”.
O vereador presta o favor, fornece o remédio, facilita a aposentadoria, a cesta básica, o transporte para a parturiente, e é obrigado nessa relação com a “clientela eleitora”, a participar de missas, casamentos, batizados, carnaval, micaretas, São João, partidas de futebol, vaquejada, cavalgada, etc. Se não bastasse, o vereador é, muitas vezes, obrigado a bancar a bebida nas festas, o uniforme para os times de futebol, ingressos nos shows realizados no município, e toda espécie de favorecimento ao eleitor, para manter um mandato parlamentar. “como diz Assis, Cesar, 2005, em seu livro Sua Excelência, O Vereador, “onde há povo, está o vereador, o verdadeiro faz-tudo na política municipal”.
Para dar respostas aos eleitores que buscam a satisfação de seus interesses, faz também indicações, representações e moções, a maioria dirigida ao Chefe do Executivo, solicitando a execução de obras e serviços. Se por um lado, pode-se observar algum indício da função legislativa e fiscalizadora, por outro, é possível perceber uma forma nebulosa do exercício da atividade legislativa, tendo em vista a interferência de um poder em outro; a troca de favores entre os Poderes Legislativos e Executivos e o “clientelismo” em relação ao eleitorado, demonstrando o tão falado “toma lá, dá cá”.
Para o cientista político Marco Antônio Carvalho Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, o grande problema do “clientelismo” é que tira a autonomia do parlamentar e o desvia da sua função. Teixeira explica que, como o parlamentar não tira dinheiro do próprio bolso, ele busca o Executivo. [...] A maior parte da legislação é de pouco interesse da sociedade. A agenda é ocupada pelo Executivo e a agenda dos vereadores é trabalho de balcão. [...] (TEIXEIRA, GAZETA DO POVO, 2008).
As deficiências funcionais da estrutura oficial dão origem à outra estrutura não oficial para satisfazer, de forma mais eficiente, certas necessidades existentes. Sejam quais forem suas origens históricas específicas, a máquina política persiste como aparelho apto a satisfazer necessidades de grupos diversos da população que, de outro modo, não teriam esta satisfação garantida.
Na tentativa de obter recursos políticos, o vereador passa, na prática, a uma relação de subserviência frente ao prefeito. Como resultado, as funções constitucionais e teóricas da Câmara, legislar e fiscalizar o Executivo, ficam mitigadas. Na mesma proporção, reduz-se o Legislativo a um órgão homologador das decisões do prefeito. Executivo torna-se um poder sem contraste.
Vale ressaltar que não existe hierarquia ou subordinação entre o Poder Legislativo e o Poder Executivo, embora muitos pensem e até digam que o chefe do Executivo é a autoridade maior do Município. (ASSIS, 2005) ensina que o Chefe do Executivo é a maior autoridade administrativa do município, porém o Presidente da Câmara Municipal é o representante do Poder Legislativo e tem autoridade semelhante ao do Chefe do Executivo, não havendo hierarquia ou subordinação entre eles, que detêm a mesma autoridade dentro do município, e se devem respeito mútuo.
O Parlamentar sério tem obrigação de combater o “clientelismo político”, o tráfico de influências, a troca de favores e a corrupção. Precisa contribuir com a organização e conscientização da sociedade ao levar informações corretas para a população e colocando o seu gabinete a serviço das mudanças positivas. 
Portanto, é preciso uma reflexão, sobretudo dos vereadores, quanto a sua atuação como parlamentar, representante do povo e fiscalizador da administração pública, repensando a forma de atuação junto à comunidade a qual pertence para que tenhamos no futuro uma sociedade mais justa e um município mais forte e independente. 

(texto baseado em sua monografia de conclusão de curso de Direito, sob o título: O Vereador, suas Atribuições Legais e o Clientelismo sob uma perspectiva teórica). 

Michel Adler
Advogado Publicista e Consultor Jurídico Municipal
micheladler28@hotmail.com

sábado, 27 de agosto de 2011

O dia em que o presidente sumiu

história - revista Veja - edição 2231 - ano 44 - n° 34, de 24 de agosto de 2011.
texto: Algusto Nunes
Há 50 anos, a renúncia de Jânio Quadros desencadeou a sucessão de crises que condenou à morte da democracia brasileira em 1964

Sete anos depois do suicídio de Getúlio Vargas, sete meses depois da posse, o presidente Jânio Quadros precipitou, com sete linhas manuscritas, a sequência de crises que desembocaria, sete anos mais tarde, no Ato Institucional n° 5 - e na instauração da ditadura sem camuflagens. Na manhã de 25 de agosto de 1961, a democracia ainda em sua infância viu-se forçada a renunciar à maturidade, que só seria alcançada caso fossem cumpridas integralmente dois mandatos consecutivos. O Brasil civilizado pareceu mais distante que nunca no dia em que o presidente sumiu.

Abrupto e inesperado, o último ato foi um fecho coerente para a ópera do absurdo composta desde o primeiro dia de governo, quando Jânio foi ameaçado pela maioria oposicionista no Congresso: se ele continuasse a hostilizar o antecessor Juscelino Kubitshek, uma sessão especial da Câmara e do Senado seria convocada para tratar do assunto. Ainda em 1° de fevereiro, o novo presidente revidou com a criação de comissões de sindicância, chefiadas por militares e incumbidas de investigar "focos de corrupção" que dizia ter herdado de JK.

Nos 204 dias seguintes, o Brasil viajou uma montanha-russa monitorada por um homem de 44 anos que obedecia exclusivamente ao instinto. Tangenciando o penhasco com perturbadora frequência, alternando freadas bruscas com arrancadas vertiginosas, ele aumentou o expediente dos servidores públicos, exonerou meio mundo, suspendeu nomeações por um ano, reduziu os orçamentos das Forças Armadas e os quadros funcionais de todas as embaixadas, tabelou o preço do arroz e do feijão, condenou a invasão de Cuba financiada pelos Estados Unidos, planejou a anexação da Guiana Francesa , baixou medias de combate ao monopólio, desvalorizou a moeda, determinou ao Itamaraty que restabelecesse relações diplomáticas com a União Soviética, proibiu o maiô em concursos de miss, lança-perfume, brigas de galo, corridas de cavalo em dias úteis e veiculação de comércio de cinema, mobilizou o Exército para reprimir uma greve de estudantes no Recife, brigou com a maioria dos parlamentares aliados, regulamentou a remessa de juros para o exterior, enviou o vice João Goulart à China, condecorou Che Guevara e rompeu com Carlos Lacerda. No 207° dia de governo, renunciou a presidência.

Insatisfeito com o congresso, infeliz com a vida numa cidade que odiava, colérico com o discurso em que Calos Lacerda o acusou de tramar um golpe de gabinete, Jânio pouco dormiu na madrugada de 25 de agosto de 1961. Saiu da cama antes que sol nascesse disposto a tirar o sono dos demais brasileiros. Depois do café da manhã ao lado da piscina do Palácio da Alvorada, sobressaltou a mulher, Eloá, com uma frase de novela mexicana: "A conspiração está em marcha, mas vergar eu não vergo!".

Às seis horas, já no Planalto, chamou a seu gabinete alguns assessores de confiança e, alisando o bigode de dono de botequim, antecipou a manchete da próxima edição de todos os jornais: "Comunico aos senhores que renuncio, hoje, à Presidência da República". Durante o desfile do dia do Soldado, convocou os três ministros militares para uma audiência - e para deixá-los atônitos com a notpicia. Rejeitou os apelos para ficar com outro palavrório solene que terminava com a identificação do culpado: "Ajudem o novo Brasil às exigências do Brasil novo. Com esse Congresso eu não posso governar".

Sem pausas, ordenou ao ministro da justiça, Oscar Pedroso Horta, que entregasse ao presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, a carta que redigira no dia 19, depois de condecorar Che Guevara. Na hora do almoço, embarcou rumo à base aérea de Cumbica, para a demorada escala que precedeu a partida para a Europa a bordo de um navio cargueiro. No dia 26, o país, imerso na perplexidade, pareceu afundar na crise provocada pelo veto dos chefes das Forças Armadas à posse do vice João Goulart.

"Ele foi a UDN de porre no governo", resumiu Afonso Arinos de Mello Franco, ministro das Relações Exteriores. "Faltou alguém trancá-lo no banheiro", lastimou. Só se fosse para sempre, sabe-se hoje. Algumas horas de cárceres privado só adiariam a tentativa de instituir o presidencialismo autoritário que o deixaria livre para agir. Na carta da renúncia, o signatário informou que deixara com o ministro da Justiça as razões do seu gesto. O segundo texto confiado a Pedroso Horta é um amontoado de queixas difusas, alusões a "forças terríveis", declarações de amor ao Brasil e juras de apreço ao Povo (com maiúscula). Ele só contou a verdade alguns meses depois antes de morrer, em 16 de fevereiro de 1992, numa conversa com Jânio John Quadros Mulcahy, o único filho homem de Tutu Quadros.

Em 25 de agosto de 1991, trinta anos depois da renúncia, o paciente internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, foi acometido por um surto de honestidade provocada pela curiosidade do neto. "Foi o maior erro que cometi", lamentou. "Ao renunciar, eu quis pedir um voto de confiança à minha permanência no poder". Foi para acentuar a sensação de vazio que despachara o vice, João Goulart, para a China. "Jango era uma espécie de Lula, completamente inaceitável para a elite", comparou. "Imaginei que o povo iria às ruas, seguido dos militares, e que eu seria chamado de volta."

O intuito genial só esqueceu de combinar com os adversários. Auro de Moura Andrade comunicou ao Plenário do Congresso a renúncia era "um ato de vontade unilateral", e empossou o presidente da Câmara, o deputado Ranieri Mazzilli. Preocupados com o vice que voltava da China, os militares esqueceram o homem que desertara. E o povo só poderia ser mobilizado por um partido janista que o líder jamais deixou nascer. "Fiquei com a faixa presidencial até o dia 26", contou ao neto. "Deu tudo errado. O país pagou um preço muito alto." Jango acabaria engolido pelos quartéis. Mas seria expelido três anos mais tarde.

A tentativa de implantação de uma ditadura civil que resultou no advento de uma ditadura militar ortodoxa seria a peça mais vistosa do acervo de singularidades e paradoxos colecionados desde berço. Jânio João Quadros segundo a certidão de batismo, o filho do médico Gabriel Nogueira Quadros e da dona de casa Leonor Silva Quadros resolveu ainda menino trocar o "João" por um "da Silva" e juntar o mais comum dos sobrenomes ao prenome inspirado em Janus, o deus bifronte. Virou Jânio da Silva Quadros - ou apenas J. Quadros, na assinatura dos bilhetinhos ou de decretos oficiais.

Nascido em Campo Grande (hoje Mato Grosso do Sul)inventou quando estudante em Curitiba um estranhíssimo sotaque sem parentesco com Mato Grosso, com Paraná ou com qualquer outra região. O assento personalíssimo só pode ser encontrado na voz dos imitadores. O estudante de direito da Faculdade do Largo São Francisco já exibia trajes desleixado e cabelos em desalinho, parecia pouco asseado, bebia com muita competência e apreciava frase empolgadas. Tinha na cabeça (além de um dicionário alojado em algum desvão do celebro) ideias vagamente nacionalistas e a certeza de que fora enviado pela Divina Providência para salvar o Brasil.

Em 1947, os alunos do colégio Dante Alighieri decidiram conseguir uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo para professor de geografia que não fizera sucesso como advogado criminalista e não ingressara na carreira diplomática "por não corresponder os padrões estéticos". Foi o começo da impressionante cavalgada das vassouras, anabolizada pelo discursos que celebrava a luta do tostão contra o milhão, prometia varre a badalheira, punir os desonestos, enquadrar os ineptos e engaiolar os corruptos - a começar pelo inimigo preferido, Adhemar de Barros, uma espécie de Paulo Maluf sem disfarces.

Em apenas treze anos, Jânio foi deputado estadual, prefeito da capital, governador, deputado federal e presidente da República. Só ficou do começo ao fim no governo de São Paulo. Ao completar o mandato em janeiro de 1959, o líder carismático havia incorporado a imagem de administrador incorruptível. O Brasil fora feliz com JK, um mineiro risonho, generoso, tolerante, afeito ao convívio dos contrários. Mas decidiu em 1960 que o sucessor seria o mato-grossense, genioso, instável, ególatra, autoritário.

Como o país, Jânio pagou caro pela renúncia ao mandato conferido por mais de 5,6 milhões de eleitores. Transformado numa caricatura de si próprio, tentou a ressurreição impossível antes e depois da cassação, em 1964. Fracassou em 1962 e em 1982 na tentativa de voltar ao governo paulista, elegeu-se prefeito de São Paulo em 1985. Aos 75 anos, morreu pensando na Presidência. E sem revelar o número da conta no banco suíço.

Cinquenta anos depois da renúncia, o Brasil parece bem manos primitivo, a democracia tem mais consistência e Jânio figura na galeria presidencial como outro ponto fora da curva. Mas tampouco parece suficientemente moderno para considerar-se livre de reprises da farsa. Países exauridos pela corrupção endêmica serão sempre vulneráveis a alguns populistas que, com um discurso sedutoramente agressivo, prometa varrer a bandalheira.