sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

20 motivos para ser a favor e 20 motivos para ser contra a descriminalização da maconha

20 motivos para ser a favor da descriminalização da maconha 

1- Consumo tradicional
Desde pelo menos 2.800 a.c. a maconha já era usada pelos chinesas para extração de fibra. As caravelas usadas na descoberta da América tinham suas velas feitas a partir da cannabis (mais tarde, Napoleão tentaria liquidar a marinha britânica barrando a chegada da cannabis russa). No final do século 19, 90% do papel usado provinha da cannabis, da qual foi feita a primeira Constituição Americana. Os primeiros jeans também foram feitos da fibra da planta. Sendo assim, seu consumo atravessa toda a história da humanidade.

2- Poderes medicinais
Da cannabis pode-se extrair 25 mil produtos de uso essencial para sociedade moderna. Roupas, calçados, produtos de beleza, óleo de cozinha, chocolate, sabão em pó, papel, tinta, isolantes, combustível, material de construção, carrocerias de carro e muitos outros produtos fazem da cannabis uma matéria-prima valiosa para a indústria mundial. Além disso, a cannabis é uma alternativa eficiente e barata no combate a várias mazelas e doenças.

3- Liberdade religiosa
Religião, sexo e drogas era uma combinação natural até a chegada do cristianismo. A cannabis sempre foi usada como instrumento religioso. Suas sementes eram queimadas pelos sacerdotes para produzir os transes místicos. Seu uso com fins recreativos começou entre os gregos, nos grandes banquetes.

4- Uso industrial
O uso industrial da cannabis sativa foi em grande parte sufocado por uma campanha agressiva de um concorrente direto, a indústria do petróleo. Em 1940, Henry Ford chegou a produzir um carro com a fibra da cannabis e movido pelo óleo da semente da planta.

5- Divisão racial
No Brasil, as dificuldades para o uso industrial da cannabis provêm de uma campanha de viés racista contra a maconha. Os negros africanos que chegavam como escravos traziam as sementes em suas tangas e se reunião à noite para fumar e cantar. Cientistas procuraram depreciar aquele hábito, tentando, sem sucesso, evitar sua difusão entre os brancos.

6- Poderoso anestésico
A cannabis tem um grande poder medicinal. Na China era usada como anestésico. Hoje, é considerada um grande remédio contra o enjoo provocado pela quimioterapia contra o câncer. A cannabis tem um grande poder medicinal. Na China era usada como anestésico. Hoje, é considerada um grande remédio contra o enjoo provocado pela quimioterapia contra o câncer. É aceita também no tratamento de glaucoma e pode ser usada contra a asma e o stress. Muitos pacientes com aids a utilizam para abrir o apetite e ganhar peso.

7- Hipocrisia
Algumas pesquisas indicam que a cannabis faz menos mal que o tabaco ou o álcool. Diferente destes, é inofensiva para terceiros, pois não provoca agressividade ou descontrole emocional. Não há indícios de dependentes de cannabis nas clínicas brasileiras. A única forma de matar alguém com maconha é jogando uma pedra do 25º andar de um prédio.

8- Impostos
Caso a maconha fosse descriminalizado o Estado poderia aplicar o imposto adquirido com usa venda para melhorar os serviços de saúde e previdência.

9- Direitos individuais
A proibição do uso da cannabis acaba muitas vezes provocando uma cadeia criminosa que jamais existiria. Já que a maconha não faz mal, por que prender quem a vende? E mesmo que fizesse, o cidadão não tem direito de fazer o que quiser com seu corpo?

10- Saúde pública
A criminalização acaba piorando a qualidade da droga e levando o usuário para o sistema público de saúde, onde o dinheiro público será empregado.

11- Violência
O Estado gasta milhões na luta contra a distribuição da maconha. Dinheiro que poderia ser bem melhor empregado caso as forças policiais se concentrassem nos verdadeiros crimes. Se a maconha fosse comprada na farmácia, haveria um contexto menos favorável para que o menino pobre da periferia ingressar no tráfico. Logo, a legalização seria um duro golpe no tráfico e em toda a cadeia criminosa que favorece a corrupção.

12- Extorsão
Pessoas de bem são abordadas como criminosas e arrancadas de sua tranquilidade, nos já famosos teatros de agressão e extorsão da polícia. A lei encaminhada no Congresso descriminalizando o usuário será um passo importante para abolir esta situação da vida brasileira. Mas a violência provocada pelo tráfico só será extinta com a liberação total da cannabis.

13- Casos de sucesso
Hoje, a cannabis é plantada na Hungria, França, Canadá, Inglaterra, {Portugal, China e Espanha. Com pesquisas genéticas, o Brasil poderia produzir em três anos a semente da cannabis sem o THC (o princípio psicoativo) para uso industrial.

14- Economia verde
A cannabis é uma matéria-prima estratégica para a sociedade sustentável. Ao contrário do petróleo, é um recurso renovável e limpo. Seu cultivo não necessita de agrotóxicos e tem alta performance produtiva, pois cresce em no máximo 110 dias(podendo ser associado a outras culturas). A cannabis favorece o princípio ecológico do desenvolvimento de regiões autossustentáveis, com plantações e fábricas lado a lado.
A luta pela plantação da cannabis sativa com uso industrial, já adotada por grifes internacionais como Adidas, Guess e Calvin Klein, é uma janela de otimismo para o futuro sustentável do planeta após o fim do petróleo e seus derivados.

15- Plantação
O plantio de maconha é muito mais rentável do que o de outras commodities que o Brasil produz. Sendo assim, legalizando a maconha o Brasil estaria permitindo que os agricultores estivessem produzindo um bem com maior valor agregado.

16- Ineficiente
Apenas um louco espera obter resultados diferentes com as mesmas ações. Mesmo com anos de guerra às drogas o consumo não para de subir. Portanto, proibir não apenas é ineficiente mas também é uma loucura. A proibição não é capaz de conter os efeitos negativos produzidos pelo uso de drogas. Dessa forma, o Estado deveria criar condições para que esse uso endêmico fosse menos prejudicial ao invés de simplesmente proibi-lo.

17- Descriminalizar não é legalizar
É preciso distinguir legalização de descriminalização. Quando se fala em descriminalizar, não estamos me referindo à droga, mas sim a uma conduta humana, individual, que atinge o social. Quando se fala em legalizar, falamos de um objeto. Podemos legalizar, por exemplo, o uso de determinado medicamento clandestino ou de um alimento qualquer desde que prove que eles não são prejudiciais à saúde. O mais certo é a descriminalização de uma conduta. Veja o seguinte exemplo: se alguém atirar um tijolo e ferir uma pessoa, não posso culpar o tijolo. Só posso criminalizar a conduta de quem o atirou. A mesma coisa acontece com a maconha. O problema é criminalizar seu uso e assumir as consequências da aplicação dessa lei.

18- Uso recreativo
A produção para uso recreacional geraria alguns milhares de empregos formais, especialmente no Semiárido Brasileiro, terreno fértil para a cultura da cannabis.

19- Drogas e crime
A taxa de crime em estados americanos no qual a maconha é legal é inferior aos estados americanos que se utilizam ainda da repressão da Maconha.

20- Contramão
O número de usuários de drogas só tende a subir. Desta forma, é uma insensatez do Estado criminalizar a conduta de uma parcela cada vez maior da população enquanto existem tantos outros crimes que ficam sem puniçao alguma. Caso o país não mude sua opinião sobre esse tema nosso sistema prisional continuará cada vez mais cheio e incapaz de regenerar  pessoas. Na prática, o Brasil se tornaria um Estado penal.

20 motivos para ser contra a descriminalização da maconha

1- Saúde

Por mais que os usuários digam que a maconha só lhes faça bem, não é isso que aponta a medicina. Os males que a maconha traz são tantos que nem vou discorrer sobre eles. Vejam abaixo os principais:

2- Circulação
Da mesma forma que o Estado pode proibir a circulação de um remédio que faz mal a saúde de seus cidadãos, pode também proibir a venda da maconha, posto que ela provoca males a saúde de seus consumidores. No final das contas, é no sistema público que a maioria desses usuários irá se tratar das doenças adquiridas pelo uso da cannabis.

3- Liberdade individual
Como qualquer um que lê esse blog já deve ter notado, sou um defensor ferrenho das liberdades individuais. Sendo assim, cada um tem o direito de fazer o que quiser com seu próprio corpo contanto que não afete a terceiros.
O problema da descriminalização das drogas é que ela implicaria numa clara afetação de terceiros, que seriam possivelmente prejudicados com mudanças sociais e econômicas advindas pela descriminalização. É bom deixar claro que o usuário atualmente, mesmo fazendo o que quer com seu corpo quando consome a maconha, acaba alimentando toda uma cadeia criminosa que já prejudica milhares de terceiros.

4- Fracasso na Holanda
Em primeiro lugar, a Holanda nunca legalizou completamente a venda de drogas. Na Holanda, o consumo APENAS em locais determinados é permitido, desde que com apresentação de carteirinha. A legislação está sendo revista. Reduzem-se as quantidades criminalizáveis. Proíbe-se o turista de comprar. E se inicia um processo de definição de maconha de alta intensidade tóxica, para proibi-la. A tendência é restringirem cada vez mais.

5- Turismo
É comum que turista vão para Holanda apenas para consumir drogas. O ambiente permissivo acaba provocando situações interessantes. Dentro dos estabelecimentos credenciados (coffee shops) o turista só encontra a cannabis aprovada pelo governo, mas basta colocar o pé pra fora dali para que lhe seja oferecido estasy e outras drogas ilícitas. Como é possível crer que legalizando uma droga o consumo de todas as outras não será aumentado?


6- Impacto social
Hoje é comum vermos pais colocando cerveja na chupeta de seus filhos. Todos achamos a coisa mais normal do mundo quando uma pessoa fuma na frente de uma criança. O que não mensuramos é que uma criança não tem consciência para assistir um ato como esse, posto que pela identificação com o adulto em questão, pode adquirir desejo pelo hábito nocivo a sua saúde. O problema em descriminalizar a maconha é que esse mesmo fenômeno será replicado. Pais e adultos irão consumir livremente e muitas crianças podem ser influenciadas.

7- Hipocrisia
Todos falam que é uma hipocrisia que a maconha que faz tão pouco mal seja criminalizada enquanto a cerveja e o álcool, que matam e destroem tanto, sejam legais. Sinceramente, isso não é um bom argumento para a legalização da maconha mas sim para sermos a favor de medidas mais duras contra o cigarro e o álcool.

8- Crime
Todos sabemos que as drogas alimentam o tráfico, e que este alimenta a violência. Então vamos conjecturar que a maconha seja liberada para ser vendida na farmácia. É natural crermos que ninguém se arriscará subir a um morro para comprar aquilo que pode comprar na farmácia. Sendo assim, o tráfico de fato seria enfraquecido. No entanto, isso não acaba com a raiz do problema.
A falta do recurso da maconha de fato irá fazer com que muitos traficantes perdessem sua fonte de renda. Porém seria uma inocência nossa crer que todos esses prejudicados iriam virar pastor ou procurar um emprego. O que eles iriam fazer é migrar para outros crimes (sequestro, assalto, etc).

9– Venda residual
Em todo o mundo, a legalização de algo não estingue a clandestinidade. Ex: Nos EUA, as clínicas de aborto clandestinas não acabaram depois da legalização do aborto.
Na Alemanha, o número de prostitutas de rua também não diminuiu depois da legalização da prostituição. Isso ocorre porque a legalização de algo quase sempre aumenta sua demanda. Logo, um jovem de 18 anos que não possa por algum motivo comprar sua sagrada cannabis na farmácia vai continuar recorrendo a um traficante.

10- Legalização e consumo
Muito se fala da Lei Seca. A realidade é que seu fim fez com que houvesse o aumento do consumo de bebida. Entendam: a demanda por bebida continuou a mesma, o que mudou foi a oferta. Logo, legalizar acarretaria em mais consumidores e mais gastos com saúde.

11- Porta para outras drogas
A maconha é sim porta para outras drogas mais pesadas. Muitos (não todos e também não são a maioria) dos usuários, em busca de sensações alucinógenas mais diversas acabam experimentando outras substâncias.

12- Efeito alucinógeno
Pensemos no Joãozinho, usuário da legalizada cannabis. De manhã ele fuma sua dose diária de maconha, ficando menos produtivo para o trabalho. Depois disso se dirige ao seu carro para mais um longo trajeto em direção ao seu serviço.
Ainda sob efeito do alucinógeno, bate com o carro e mata um inocente. Como fazer o teste do bafômetro no Joãozinho? Qual seria a dose máxima que ele poderia fazer uso?

13- Inflação
Como todos sabemos, plantar cannabis, devido ao seu valor, é algo bastante interessante para um agricultor.
Imaginemos que nossos agricultores, de olho nos lucros advindos do mercado da maconha, resolvessem plantar maconha. Desta forma, deixariam de plantar arroz, feijão e outros alimentos para plantar a cannabis. Como a oferta de alimento seria reduzida e sua demanda não, o preço dos alimentos seria elevado, prejudicando os mais pobres ( pois eles destinam a maior parte de sua renda a alimentação).

14- Precedente
Legalizando a maconha só por causa de sua incidência alta criaríamos perigoso precedente, pois todo o ato criminalizado que tivesse uma grande incidência e apoio de setores da sociedade seria legalizado, independente de suas consequências para a coletividade.

15- Uso compulsivo
“A maior parte do uso da maconha é recreacional”, mas tem grandes chances de se tornar em uso compulsivo devido a dependência psicológica que ela pode causar.
As drogas não escolhem as pessoas pelo seu poder aquisitivo, nem pelo nível cultural. A única maneira de afetar diretamente as causas fundamentais do uso de drogas é pela educação e prevenção. Qualquer nível de uso de drogas lícitas e ilícitas pode levar à dependência.

16–Prevenção
O mercado de drogas é comandado pela demanda e milhões de pessoas demandam drogas atualmente ilegais. Se a produção, suprimento e uso de algumas drogas forem descriminalizados, o suposto vazio que é preenchido pelo crime organizado sofrerá uma migração para o contrabando, ou seja, a atuação criminosa não deixará de existir. Os lucros neste mercado são de bilhões de dólares.
A legalização não tem o poder de forçar o crime organizado a sair do comércio de drogas, sua renda continuará com o contrabando e a regulação e controle do mercado não resolverão o problema do comércio ilegal e não passarão de uma grande falácia. Como exemplo claro disto temos a venda ilegal de maconha na Holanda, que apesar dos “coffee shops”, não parou.
O mercado internacional de drogas pode ser enfraquecido se menos pessoas consumirem drogas, isso só será alcançado através da prevenção.

17 – Aumento do uso
Entre alguns jovens, o uso ilegal da droga é visto como normal. Já em alguns lugares, a polícia faz total vista grossa a venda de drogas.
Como resultado dessa “legalização” vemos vidas destruídas e criminalidade. Intensificar a guerra contra as drogas somente pela repressão não está reduzindo a demanda, são necessários mais investimentos na prevenção dos males causados pelo uso das drogas hoje ilegais.
A legalização aceita que o uso da droga é normal e que é uma questão social e não uma questão de justiça criminal, no entanto o uso de drogas é normal apenas para algumas pessoas e é preciso vê-la como um problema de saúde pública com todas as suas consequências.
Cabe a nós decidirmos como vamos lidar com isto. O problema do uso de drogas evoluiu muito. Se condenações judiciais não são a solução, os cuidados médicos e a prevenção ainda são o melhor caminho.

18- Redução de danos
”A proibição conduziu à estigmatizarão e marginalização dos usuários de drogas. Os países que adotam políticas ultra-proibicionistas têm taxas muito elevadas de infecção por HIV entre usuários de drogas injetáveis.
As políticas de redução de danos estão em oposição direta às leis de proibição”. Nesse sentido torna-se mais evidente a necessidade de informação “aberta, honesta e verdadeira”.
A prevenção, num contexto de proibição, ainda é o melhor caminho em relação à legalização. Há também uma necessidade explícita de uma maior acessibilidade dos dependentes aos serviços de saúde pública e às redes voltadas à atenção psicossocial.

19 – Interesses financeiros
“O mercado de drogas ilegais representa cerca de 8% de todo o comércio mundial (em torno de 600 bilhões de dólares ano). Países inteiros são comandados sob a influência, que corrompe, dos cartéis das drogas”.
A legalização não faria com que estes cartéis desistissem do seu rentável negócio, ou mesmo dissuadisse os pequenos traficantes a mudar de ramo, dizemos isso baseados na experiência da Holanda, em que pequenos “drug dealers” fazem seu comercio nas portas dos fundos da “coffee Shops”. A migração para o contrabando seria um caminho natural desses grupos criminosos e pequenos traficantes.
Os impostos seriam escoados nas atividades ilegais e, portanto, a legalização não geraria impostos suficientes para ações que visassem a prevenção e, não diminuiria o alto nível de corrupção que há no Brasil. As nações estrangeiras ainda seriam reféns da produção de drogas dessas “nações produtoras”, uma vez que elas ainda seriam as principais fornecedoras.

20 – A PROIBIÇÃO NÃO FUNCIONA, NEM A LEGALIZAÇÃO
Se a proibição não funciona, a legalização significa ir ao outro extremo do dilema sem resultados comprovados.
A prevenção ao uso de drogas, baseada na educação, na informação direta, objetiva e sincera, ainda situa-se num plano de soluções viável e plenamente possível.
A inserção de uma disciplina referente às informações sobre as principais substâncias ilícitas, desde o Ensino Fundamental é um passo lógico, antecedido é claro, pela capacitação de professores de Química, Biologia, Português, Sociologia, entre outras disciplinas para tratar do assunto em sala de aula e sem especulações, com dados científicos e realistas sobre as consequências do uso de substâncias proibidas. Quem desejar utilizar drogas ilícitas terá que estar bem alerta sobre todos os riscos (à saúde e judiciais) que decorrem deste ato.

Texto copiado do endereço: https://acidblacknerd.wordpress.com/


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A vida e o cotidiano dos operários dentro e fora da fábrica

Os trabalhadores moravam geralmente próximo às fábricas, mas precisavam acordar de madrugada, porque o trabalho começava entre cinco e seis horas da manhã. As mulheres acordavam sempre antes dos homens, porque precisavam preparar o alimento que seria levado para o almoço. Tinham ainda que limpar a casa, lavar a roupa e cuidar de crianças etc..

Alimentavam-se basicamente de batatas cozidas com um pouco de bacon e chá. Sua antiga alimentação, pão de aveia e cerveja caseira, tornara-se um luxo devido ao aumento do preço dos cereais. Suas moradias eram pequenas, nas ruas havia lama e lixo, o esgoto ficava sempre exposto. O mau cheiro era então, fortíssimo, insuportável.

Se os operários viviam em bairros e moradias miseráveis, a burguesia inglesa e européia vivia de forma bastante confortável. Suas residências eram cuidadosamente planejadas, com jardins internos, sala de jogos, recantos femininos e masculinos, longos corredores para preservar a intimidade nos inúmeros cômodos. Todo esse luxo ficavam longe e distante dos olhos dos trabalhadores.
O trabalho na fábrica era realizado em pé e durava muitas horas (entre catorze e dezesseis horas). havia capatazes também, ou seja, pessoas que vigiavam o trabalho dos operários. Os donos das fábricas, geralmente nem eram conhecidos pelos trabalhadores, diferente do que acontecia nos tempos das oficinas, ou das indústrias domésticas, quando havia um contato mais direto com os patrões.

Havia um intervalo para o almoço no final da manhã. Os operários sentavam no chão da fábrica para comer e quase não conversavam pois em quinze minutos deveriam retornar ao trabalho, o qual estendia-se até nove horas da noite, aproximadamente. O desgaste era muito grande e vários deles não tinha disposição para divertimentos. Alguns, porém, dirigiam-se aos bares, onde bebiam gim - uma bebida muito mais forte do que a cerveja caseira -, até uma certa hora, quando retornavam para casa. O jantar era, quase sempre à base de batatas e sopa de aveia.

Enquanto seus pais trabalhavam, as crianças ficavam sozinhas em casa. Geralmente os mais velhos cuidavam dos mais novos. Porém, estavam sempre expostos às doenças, pois o ambiente em que viviam era higienicamente precário. Vários pais acabavam permitindo que seus filhos também fossem trabalhar nas fábricas. Isto porque precisavam aumentar a pequena renda da família.

As crianças começavam mais cedo ainda, aos cinco anos de idade, por exemplo. Trabalhavam a mesma quantidade de horas que seus pais, eram vigiadas e castigadas pelos capatazes e recebiam cerca de um sexto do salário dos adultos. Devido a isso, as crianças passaram a ser cada vez mais empregadas, o que causou o desemprego de muitos adultos. Antes da existência das fábricas, já havia trabalho infantil - nas oficinas, por exemplo, mas era intercalado com jogos e brincadeiras, o que não acontecia nas fábricas.

Texto oganizado por Hostelita  

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Evolucionismo cultural, segundo Lewis Morgan

Lewis Morgan designou três grandes períodos étnicos que marcaram a história humanidade: a Selvageria, a Barbárie e a Civilização.
Por João Francisco P. Cabral
Colaborador Brasil Escola
Graduado em Filosofia pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU
Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

De acordo com a teoria evolucionista da humanidade, a história do homem seguiu, desde sempre, um mesmo caminho, linear e progressivo. Analisando algumas condições entendidas como universais, pode-se traçar o caminho realizado pelo homem desde seus primórdios até os dias de hoje, evidenciando uma diferença temporal entre aqueles que ainda não possuíam determinados estágios desenvolvidos.

Seguindo a tendência de alguns etnólogos, que tinham como base no séc. XIX a Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin, Lewis Morgan determinou que as condições básicas que se pode analisar em cada estágio da história humana são, por um lado, as invenções e descobertas e, por outro lado, o surgimento das primeiras instituições. Dessa forma, constatam-se alguns fatos que marcavam a gradual formação e desenvolvimento de certas paixões, ideias e aspirações, comuns aos humanos em cada estágio. Estes fatos são:

1.      A subsistência;
2.      O governo;
3.      A linguagem;
4.      A família;
5.      A religião;
6.      A arquitetura;
7.      A Propriedade.

Cada um desses fatos e seus desenvolvimentos caracterizariam a formação de um período étnico, permitindo a sua identificação e distinção dos demais. De forma geral, Morgan designou três grandes períodos étnicos da humanidade: a Selvageria, a Barbárie e a Civilização. Vejamos como ocorreram:
A selvageria iniciou-se com o surgimento da raça humana, adquirindo uma dieta à base de peixes e também desenvolvendo o conhecimento e uso do fogo, chegando, por fim, à invenção do arco e flecha;

A barbárie é a fase imediatamente posterior à selvageria, tendo como característica distintiva a invenção da arte da cerâmica. É também caracterizada pela domesticação de animais, bem como do cultivo de plantas através de um sistema de irrigação. O uso de tijolos de adobe e pedras na construção de moradias também fez parte deste período. Por fim, a invenção do processo de fundição do minério de ferro e o uso de ferramentas deste metal.

A civilização, período ao qual pertencemos, tem início, conforme Morgan, com a invenção do alfabeto fonético e o uso da escrita e estende-se, como dito, até a atualidade.

É assim que Morgan entende o sentido da evolução humana. Em cada uma dessas etapas, as invenções passaram por um processo de adaptação progressiva. Pode-se entender que o homem civilizado, porque tem armas mais sofisticadas, instrumentos que exijam uma tecnologia mais avançada e instituições mais consolidadas, é o padrão de referência para o julgamento dos homens nos tempos anteriores a esse status. Mas, será que o índio ou o aborígene não tem cultura? Não seguem regras e não possuem também linguagem? Essa crítica pode ser levantada, pois a chamada civilização torna-se juiz de si mesma, isso criou o que conhecemos na história como Etnocentrismo, ou seja, uma etnia no centro, julgando as outras a partir de suas próprias condições.

Portanto, é deste modo que a sociedade atual fala em progresso, em evolução e institucionalização, pois segue a ideia clássica de que a humanidade tem uma mesma origem no tempo, embora em espaços diferentes, mas que aquelas sociedades que se livram das condições de estágios anteriores, alcançaram o nível de civilidade, enquanto as outras que não se livraram dessas mesmas condições continuam, seja num estágio de selvageria, seja num estágio de barbárie.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Positivismo, Marxismo e Escola dos Anaales e suas diferenças

Auguste Comte
HISTÓRIA POSITIVISTA
Os historiadores dessa corrente de pensamento baseavam suas análises em perspectivas deterministas, isto é, ressaltavam, por intermédio de uma variedade de documentos oficiais escritos, os fatos mais importantes; ordenavam-nos seguindo uma ordem cronológica e linear de apreensão do tempo e descreviam-nos com a perspectiva de reviver o passado real da humanidade. Por isso, receberam o estigma de “metódicos” ou “historiadores narrativos”, pelos historiadores do século XX. A intenção dos historiadores positivistas era ressaltar a importância dos grandes heróis nacionais, assim como, evidenciar no Estado Nacional em consolidação, o verdadeiro sujeito das transformações em curso. Além disso, enaltecer o auge da civilização europeia em ritmo acelerado de desenvolvimento após as novas tecnologias advindas da Segunda Revolução Industrial.

Nota-se uma preocupação com assuntos de ordem política e social, porém resgatando uma sociedade “abstrata”, pois se centralizava na figura dos grandes líderes nacionais, estes sim, responsáveis pelas transformações estruturais de sua Nação. Os diversos grupos sociais estavam esquecidos, ou “à margem” do desenrolar histórico. 

Historiador alemão Leopold Von Ranke
Leopold Von Ranke (1795-1886)
Esse historiador alemão, “pode ser considerado um dos fundadores da história científica na Alemanha e um dos fundadores do cientificismo” (BURGUIÉRE, 1993, p. 645). Ranke exerceu um papel importante na configuração dos aportes teóricos que possibilitaram fornecer um caráter científico à História. O historicismo ou História Narrativa é o nome dado à Teoria que pretende apresentar “os fatos históricos tal qual realmente se passaram” (wie es eigentlich gewesen) (RANKE apud LÖWY, 2007, p. 68). Sua metodologia (o positivismo) tem como princípio a objetividade e neutralidade por parte dos historiadores ao “reviver” a História. 

A história pode ser concebida como uma narrativa de fatos passados. Conhecer o passado dos homens é, por princípio, uma definição de história, e aos historiadores cabe recolher, por intermédio de uma variedade de documentos, os fatos mais importantes, ordená-los cronologicamente e narrá-los. Essa tendência passou a ser dominada de historicismo, cuja metodologia foi conhecida como positivista, por basear-se nos princípios da objetividade e da neutralidade no trabalho do historiador. Conhecer o passado da humanidade tal como ocorreu constitui uma definição de história característica da ciência positivista do século XIX.

De uma história econômica a uma história social 
No decorrer do século XX, a produção historiográfica passou a disputar espaço com as novas ciências sociais que se constituíam na busca da compreensão da sociedade, especialmente a Sociologia, a Antropologia e a Economia. Como consequência dessa disputa houve uma renovação na produção historiográfica com paradigmas que visavam ultrapassar o historicismo.

Karl Marx
A HISTÓRIA MARXISTA
A Filosofia marxista configurou, de fato, um novo enfoque teórico de análise da História. Enquanto os historiadores positivistas baseavam seus estudos na “genealogia da Nação Moderna”, por intermédio dos documentos oficiais escritos, compondo uma história das elites políticas, “reacionária” do ponto de vista teórico, Marx afirmava ser a Luta de classes o verdadeiro fundamento de uma História em movimento. Para Marx, o “trabalho” (categoria fundante de sua filosofia), entendido como as múltiplas relações entre os homens e a natureza, relação esta que ocorre como condição material da vida em sociedade, representa o estágio ou modelo de produção de organização social e econômica de um determinado espaço e período histórico.

O “acontecimento” e “as ações individuais” (fundamentais para os historiadores positivistas) provocadores de transformações e mudanças, são para os historiadores marxistas, consequências naturais do estágio do modo-de-produção em curso. 


Marc Bloc
Lucien Febvre
ENTRA EM CENA A ÉCOLE DOS ANNALES
Essa corrente do pensamento historiográfico surgiu com a inauguração da revista: “Analles de História Econômica e Social”, fundada em 1929 pelos historiadores Marc Bloch (1886-1944) e Lucién Febvre (1878-1956) (ambos professores da Universidade de Estrasburgo). A intenção era promover estudos relativos às estruturas econômicas e sociais, favorecendo possíveis contatos interdisciplinares no seio das Ciências Sociais. Os horizontes de ação do historiador ampliavam-se e possibilitavam recuperar o passado por intermédio de questões colocadas pelo tempo presente, assim como a ampliação da noção de fonte. A História deixa de ser “narrativa” para ser “problema”: Na história-problema, o historiador escolhe seus objetos no passado e os interroga a partir do presente. Ele explicita a sua elaboração conceitual, pois reconhece a sua presença na pesquisa: escolhe, seleciona, interroga, conceitua. 

A noção de tempo é encarada da seguinte forma: A divisão entre “tempo do acontecimento, da conjuntura e da longa duração ou estrutura” (BITTENCOURT, 2004, p. 146) possibilitou uma ampliação da noção de tempo à História e definiu novos aportes metodológicos para apreensão da memória histórica.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

História e Geografia e sua importância em sala de aula

Reflexões sobre o estudo das Ciências Humanas na educação básica
História e geografia estão intimamente relacionadas, uma área é diretamente dependente da outra, não por acaso uma é considerada ciência auxiliar da outra.
É interessante lembrar que ambas pertenciam à filosofia até o século XVIII.
Foi dentro do contexto da Revolução Francesa que, os iluministas, ao criarem a enciclopédia, iniciaram a subdivisão do conhecimento; depois, no inicio do século XX, levada ao extremo pelo fordismo.
No entanto, apesar de diversos setores da geografia constituírem pura história e de, inversamente, pressupostos teóricos e metodológicos da história dependerem da geografia; o trabalho do historiador e do geógrafo possui distinções marcantes.
Entretanto, em sala de aula, principalmente na educação básica, história e geografia deveriam ser abordadas de forma mais integrada, visando propiciar de fato a formação da cidadania, fortemente apregoada pela LDB.
Alias, no âmbito das Ciências Humanas, não só a história e a geografia deveriam fazer parte da formação do educando no ensino infantil e fundamental, mas também a filosofia e a sociologia.
Estas duas ultimas, embora pertençam apenas aos currículos do ensino médio, na realidade podem e devem estar inseridas nos conteúdos de história e geografia na educação básica, inclusive porque são ciências auxiliares destas áreas.

O que é história?
A história é a ciência que estuda o passado, analisando as transformações para tentar entender o presente.
Neste sentido, ao resgatar o passado, permite conferir sentindo para o presente, ajudando a transformar a realidade a partir de sua compreensão, guiando rumo ao futuro.
Para Sócrates, na realidade Platão falando através do personagem, a história seria pura memória circunscrita ao fato de conhecer.
Enquanto Aristóteles afirmou que a história seria uma coletânea de fatos que guardam a memória.
Conceitos ultrapassados, pois atualmente a história trabalha com a memória, mas vai muito além, envolve a interpretação dos fatos, problematizações e até ideologias.
Seja como for, a palavra “história” tem origem grega, significando investigação ou informação, tendo surgido no século VI a.C.
Foi utilizada neste sentido pela primeira vez por Heródoto de Halicarnasso, considerado o pai da história.
Ele escreveu sobre as guerras entre gregos e persas, tentando entender como os últimos haviam conseguido criar um Império, entrevistando contemporâneos dos fatos e buscando relatos como fontes para reconstruir os acontecimentos.
Afirma-se que Heródoto é o pai da história porque a partir dele começou a mudar a lógica de pensamento humano, antes as explicações para o presente tinham origem nos mitos.
Os mitos forneciam explicações divinas para aquilo que o homem primitivo não conseguia explicar através da razão.
Mesmo depois de Heródoto, entre os romanos, por exemplo, mitologias divinizavam a fundação da cidade de Roma, através da clássica estória de Rômulo e Remo sendo criados por uma loba.
Na realidade, a História de Heródoto é um marco de um longo processo de consolidação da racionalidade.
O qual se iniciou antes dele, com o surgimento da filosofia no século VII a.C., questionando os mitos e as opiniões de senso comum.
Um processo que se estendeu até século XX, passando por fases transformadoras.
É por isto que história e filosofia se confundiram até o século XVIII.
Ambas tinham o mesmo objetivo: entender a realidade através da observação do presente e do passado.
Cabe lembrar que, até o século XVIII, as várias áreas do conhecimento humano pertenciam à filosofia e não só as Ciências Humanas, a qual englobava também matemática, biologia e psicologia, embora não assim nomeadas.
 A história, como a geografia, era só mais uma das faces da filosofia, já que o conhecimento estava dividido em quatro grandes áreas: Teologia, Direito, Medicina e Filosofia.
Somente a partir do iluminismo é que a história apareceu como ciência autônoma.
O iluminismo pretendia iluminar o mundo com o conhecimento, ilustrando e trazendo luzes a ignorância.
O que revolucionou o conhecimento a partir da sistematização do saber através da enciclopédia, a subdivisão do conhecimento.
Assim, a história enquanto ciência surgiu a partir da especialização do conhecimento, no século XVIII, bem como depois de se embasamento metodológico no século XIX e XX.
Passando pelo cientificismo positivista, a escola metódica alemã, a escola de Annales, a tendência marxista, a nova história, a história das mentalidades, a história cultural, a micro-história e a história regional, entre outras tendências.
Esta especialização fez com que a história passasse a se ocupar do estudo dos fatos históricos, acontecimentos relevantes para o entendimento das questões do presente.
Fatos que provocam rupturas ou que contribuem para continuidades.
A análise e interpretação da história, o entendimento dos processos de transformação e continuidades, além de utilizado para entender o presente, passou a servir ao fomento de novas mudanças, ou ainda, inversamente, para impedir qualquer mudança.
Dependendo dos interesses dos grupos dominantes, resgatar o passado pode servir para criar um modelo que busque retrocessos, a adoção de valores antigos.
Em contraponto, o resgate do passado pode servir também a formação de uma nova identidade, manipulando as massas segundo os interesses de determinados grupos.
Em outro sentido, a história pode ainda fornecer probabilidades sobre o que esperar do futuro, embora não seja possível prever com exatidão o que irá acontecer.

O que é geografia?
A geografia é a ciência que estuda a relação entre a terra e seus habitantes, analisando tanto características físicas como humanas.
Portanto, ao estudar os aspectos físicos, observa a superfície do planeta, a distribuição espacial dos fenômenos da paisagem e a dinâmica de interação com a atmosfera e o universo.
No que tange aos aspectos humanos, estuda a integração e relação estabelecida entre os homens (políticas sociais, culturais e ideológicas) e entre estes e seu meio ambiente.
Como se pode observar, principalmente, no que diz respeito à geografia humana, a relação da área com a história é óbvia, muitas vezes se confundindo.
Destarte, os primórdios da geografia, como no caso da história, remontam a antiguidade.
A palavra geografia surgiu no século III. a.C., criada pelo filosofo Erastótenes, um estudioso que se dedicou também a astronomia, física e matemática.
Etimologicamente, a partir do grego, geografia (geo + grafia) significa estudo ou descrição da terra.
No entanto, alguns autores defendem a idéia que, antes ainda da palavra ser criada, a geografia remonta aos primórdios da humanidade.
Quando os primeiros humanos precisaram observar o terreno para preparar a defesa contra grupos rivais e ampliar o sucesso nas tentativas de caça e, posteriormente, cultivo das terras.
Porém, pensada racionalmente, a geografia surgiu no século VII a.C. com a filosofia, sendo objeto de reflexão de Tales de Mileto, Ptolomeu e do próprio Heródoto.
Na antiguidade, devido às exigências requeridas pelas guerras e comércio, a geografia criou uma de suas subáreas: a cartografia (chartis = mapa + grapheim = escrita).
Palavra que a partir do grego simboliza o estudo e utilização dos mapas.
Foram os romanos que aprimoraram inicialmente os mapas para controlar seu vasto Império, o que depois foi complementado pelos árabes, italianos e português devido às necessidades comerciais e navais.
 Na Idade Média, quando muitos conhecimentos acumulados na antiguidade foram trancados nos mosteiros e bibliotecas de circulação restrita, os conhecimentos geográficos foram preservados pelos árabes.
Depois, dentro do contexto da intermediação de especiarias pelas cidades italianas de Genova, Veneza e Florença; estes conhecimentos retornaram a Europa e estiveram relacionados com o aprimoramento da navegação no Mediterrâneo e, posteriormente, no Atlântico.
A geografia foi introduzida como disciplina nas primeiras Universidades, mas não era considerada uma área autônoma, estando inserida na filosofia.
A exemplo da história, a geografia só começou a ser reconhecida como ciência no século XVIII, com a Revolução Francesa e o Iluminismo.
Entretanto, seu reconhecimento completo, como conhecimento cientifico, precisou aguardar o século XIX e XX.
Foi quando passou por quatro fases inteiramente relacionadas com a geografia humana e a história.
No século XIX, influenciado pelo materialismo histórico de Hegel e pelo marxismo, surgiu o determinismo geográfico.
Concepção segundo a qual o meio ambiente determina a fisiologia e psicologia humana.
Teoria que serviu de justificativa para o domínio neocolonial europeu sobre a África e Ásia, além do nazismo.
Na segunda metade do século XIX, surgiu a geografia regional, o estudo integrado de elementos humanos e naturais para tentar entender as características de determinada região e sua integração com o resto do mundo.
Na metade do século XX aconteceu à chamada Revolução Quantitativa, quando pressupostos matemáticos, estatísticos e econômicos foram agregados a geografia para tentar entender a formação do panorama político.
Na década de 1970 apareceu na Europa a geografia radical, também chamada critica por afirmar que os métodos estatísticos não trazem contribuição para a compreensão da sociedade por mitificarem a realidade.
Segundo esta tendência seria papel da geografia repensar questões sociais como o desenvolvimento do sistema capitalista, a globalização, a disparidade entre ricos e pobres e questões relacionadas ao meio ambiente.
O que novamente fez história e geografia se aproximarem e, na opinião de alguns teóricos, perderem seu sentido e identidade como disciplinas autônomas.
No entanto, ao invés de representar o fim da história e da geografia, a tendência pode resgatar o sentido original do conhecimento humanista, significando maior integração entre as áreas.
Integração que, no caso da geografia, sempre foi estreita também com a geologia e a botânica, trazendo a partir deste conceito a sociologia e a filosofia para dentro da área.

O trabalho do historiador.
O historiador dedica-se a desvendar a realidade histórica, a conhecer o passado através da investigação, buscando indícios, provas e testemunhos para abordar problemáticas, relacionando fatos para encontrar as razões de continuidades e rupturas no presente.
Embora o professor de história possa ser também um historiador e vice-versa, exercem funções distintas.
Enquanto o professor de história transmite o conhecimento acumulado, discutindo fatos previamente selecionados pelos historiadores; estes últimos são responsáveis pela construção das narrativas históricas.
Neste sentido, apesar da tentativa de imparcialidade, o trabalho do historiador é fabricar a historia.
É verdade que o historiador precisa fundamentar sua narrativa do passado através de pesquisa, carecendo de fontes que confirmem suas hipóteses; porém, enquanto sujeito histórico, não está isento de concepções políticas e ideológicas que interferem na seleção de fatos e na sua interpretação.
Diante de uma imensidão de dados, o historiador termina ignorando alguns, enfatizando outros, compondo uma visão do passado dentre inúmeras outras possíveis.
O que constrói os fatos que serão incorporados aos livros didáticos.
Por isto, passa ser função do professor realizar uma critica dos conteúdos, ao mesmo tempo em que transmite o saber acumulado pela humanidade.
É função da escola formar não só sujeitos que conhecem e dominam conteúdos, como também indivíduos críticos, capazes de questionar e ajudar a reformular o conhecimento.

O trabalho do geógrafo.
O geógrafo é o responsável pelo estudo da interação entre o homem e a natureza, fazendo parte de sua área de abrangência uma ampla gama de subáreas e possibilidades.
Este profissional pode se dedicar, por exemplo, a elaboração de mapas, trabalhando com cartografia, ou realizar analises do impacto ambiental da interferência humana sobre a natureza, lidando com a ecologia.
Pode ainda interpretar questões de natureza política, econômica e cultural para ajudar no entendimento e mapeamento das relações estabelecidas entre regiões e/ou com o meio ambiente.
Portanto, o geógrafo possui um amplo mercado de trabalho fora da sala de aula, podendo atuar em agencias publicas e privadas, em instituições de planejamento e gestão ambiental e territorial, além de empresas de engenharia, levantando dados essenciais para construção civil.
Exatamente por esta razão, este profissional, quando bacharel, possui o direito de registro no CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), subordinado ao Conselho Federal.
O que, muitas vezes, faz a maioria dos geógrafos optarem por não lecionar, deixando as escolas desfalcadas, ao passo que professores de história terminam preenchendo esta brecha.

Concluindo.
Pensando na história e na geografia, no âmbito das Ciências Humanas, voltados para o ensino infantil e fundamental, este conhecimento se torna essencial na formação de indivíduos críticos, contribuindo com a construção da cidadania.
História e geografia, abordados de forma integrada, até mesmo devido a sua proximidade e aos temas transversais que atravessam as duas áreas, devem ajudar a se situar no mundo.
Ajudam as pessoas a entenderem a si mesmas e o mundo em que vivem, criando consciência da necessidade de uma participação mais ativa na sociedade e na caminhada rumo a um futuro melhor.
Entretanto, para que isto aconteça, cabe ao professor abordar conteúdos de forma mais dinâmica, estimulando questionamentos ao invés de fornecer respostas prontas.
Para saber mais sobre o assunto.
KARNAK, L. (org.). História na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2008.
PINSKY, C. B. (org.). Novos temas nas aulas de história. São Paulo: Contexto, 2009.
CARLOS, A. F. A. A geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2010.
Texto: Prof. Dr. Fábio Pestana Ramos.
Doutor em História Social pela FFLCH/USP.
Bacharel e Licenciado em Filosofia pela USP.

Para entender a história... ISSN 2179-4111. Ano 2, Volume ago., Série 15/08, 2011, p.01-07.

terça-feira, 20 de agosto de 2013

História do Dia do Historiador - 19 de agosto

A proposta de homenagear os historiadores é de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos políticos mais capacitados para falar de educação neste país. Inicialmente, a data escolhida foi o dia 12 de setembro. Mas ai, foi proposta uma emenda, aprovada pela comissão, que alterava a data para 19 de agosto. Isso tudo foi registrado na LEI Nº 12.130, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009.
O objetivo era aproveitar a data para homenagear Joaquim Nabuco, que nasceu no dia 19 de agosto de 1849. Nabuco, para quem gosta de História do Brasil, foi um dos maiores abolicionistas deste país. Também foi político, diplomata, jurista, jornalista, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e também Historiador.
Para homenagear a data de hoje, coloco aqui um trecho da justificativa do senador para criar o Dia do Historiador:
"Um povo sem história é um povo sem memória. Essa afirmação, mais que um dito já popular, é também uma verdade histórica, pois todos os agrupamentos humanos que não preservaram sua memória - em histórias, documentos, objetos de arte e arquitetura - acabaram sucumbindo a ditaduras e até acabaram por desaparecer da face da Terra.
Por essa razão, não apenas a disciplina que trata das histórias dos povos deve merecer nossa atenção, mas também os cientistas que se dedicam a essa tarefa tão nobre. Obviamente, a história se faz por seus protagonistas: lideranças políticas, religiosas e econômicas, por um lado; grupos populares, lutas contra a opressão e pela libertação, por outro. E para registrar tudo, o historiador.
E de tal modo é importante o papel dos historiadores que, por vezes, eles ajudam, também, a reconfigurar a história de um País. Ao lado da Filosofia e da Literatura, a História está presente desde os primeiros momentos da nossa tradição ocidental, constituindo um dos saberes mais antigos de nossa civilização." 

Texto: Prof. Adinalzir

sábado, 2 de março de 2013

Paulo Freire e seu método de alfabetização de adultos

O que Freire fez de tão revolucionário para ser referência no mundo?

Madalena Freire, filha de Paulo Freire, participando da alfabetização em Angicos/RN, em 1963 (Foto: divulgação)
Madalena Freire, filha de Paulo Freire, participa da alfabetização em Angicos/RN, em 1963 (Foto: divulgação)
Há mais ou menos 50 anos, um brasileiro visionário criou um método de alfabetização de adultos que mais que ensiná-los a ler e escrever em 45 dias, resgatava neles a coragem, a vontade e a força para participarem do mundo de forma crítica e consciente. Esse brasileiro foi Paulo Freire, educador pernambucano, filósofo, escritor, político e militante de causas sociais. “Ele elaborou uma teoria do conhecimento e procurou o sentido da educação, centrando suas análises na relação entre ‘educação e vida’, reagindo às pedagogias tecnicistas do seu tempo. A educação, para ser transformadora, precisa estar centrada na vida. Para ser emancipadora, necessita considerar as pessoas, suas culturas, respeitar o modo de vida deles”, conta Angela Biz Antunes, diretora de Gestão do Conhecimento do Instituto Paulo Freire.

Reunião do Conselho Nacional de Cultura, Ministro da Educação, Paulo de Tarso para discutir as estratégias para a execução do Plano Nacional de Alfabetização (Foto: divulgação)
Antes do golpe militar, reunião com Ministro da
Educação, para discutir as estratégias para a
execução do Plano Nacional de Alfabetização
(Foto: divulgação)
Quando criou seu método, Freire era diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife. Inconformado com a exclusão e silenciamento de brasileiros, com o número de analfabetos no país, com o modelo de ensino que tratava adultos como crianças, que alienava estudantes e que só os distanciava da construção do conhecimento, ele resolveu propor algo para mudar. Criou um método sem cartilha, que desse voz ao aluno. Para testá-lo, partiu com um grupo para uma cidadezinha localizada no sertão do Rio Grande do Norte, Angicos, e alfabetizou 300 cortadores de cana em 40 horas-aula. Freire estimulava adultos a entenderem o funcionamento do registro escrito a partir do conhecimento deles, assumindo que o aprendizado (e a escola) acontece também fora das quatro paredes da sala de aula.
O método
Ele dividiu seu método em fases. Inicialmente, o educador explora junto com o adulto a ser alfabetizado quais palavras e temas são parte do universo vocabular do grupo. Por meio de conversas informais, seleciona aproximadamente 20 palavras geradoras. Discute o significado daquela palavra naquele contexto e amplia para outros significados. Depois, o educador mostra como as sílabas formam as palavras e como essas mesmas sílabas podem ser usadas para formar outras palavras conhecidas. Durante esse processo, todos conversam sobre o poder das palavras, para que os falantes possam se apropriar delas também no registro escrito sem distanciamento, donos delas. Nesse processo, discutem, além do abc, a compreensão do mundo, inspirando uma postura pela liberdade.
Os resultados do seu método foram testados no mundo todo, sendo adotado por diversas organizações não-governamentais que desenvolvem programas de alfabetização de adultos. É poderoso sem ser pretencioso, nasce da esperança de uma democracia onde todos tenham liberdade para se manifestar. “Paulo Freire foi denominado ‘guardião da utopia’ por Milton Santos. O legado que ele nos deixa, entre tantas contribuições, é um legado de esperança, de entender a educação como espaço de transformação social, que nos ajuda não só a ler a história, mas sermos também escritores da história, de entender que o ‘mundo não é; o mundo está sendo’, de não nos inscrevermos no campo do determinismo e sim no campo das possibilidades, onde há sempre lugar para o sonho e para a esperança”, fala Angela Antunes.
Lendo o mundo
Alfabetização de adultos em São Tomé usando o método freiriano (Foto: divulgação)
Alfabetização de adultos em São Tomé usando
o método freiriano (Foto: divulgação)
Para Vera Masagão, coordenadora geral da ONG Ação Educativa, a grande contribuição de Freire foi mostrar que o ler e escrever só tinha sentido quando o adulto entendia o sentido político do aprendizado, com essa nova visão de mundo para poder transformar sua realidade. “Ele propôs um método simples, de relacionar o aprendizado da escrita, com a leitura do mundo. Ao mesmo tempo que o sujeito aprendia as letras, ele aprendia a leitura do mundo. Para que aprendizagem faça sentido, o educando precisa se reconhecer como sujeito. Ele fazia antes o adulto se ver como um sujeito produtor, perceber que ele tinha conhecimento e que só faltava essa ferramenta do conhecimento letrado para ele conseguir transformar essa situação”, fala Vera Masagão.
Paulo Freire se mantém atual. “Na sociedade do conhecimento de hoje, isso é muito mais verdadeiro, já que o “espaço escolar” é muito maior do que a escola. Os novos espaços da formação (mídia, rádio, TV, vídeos, Internet, igrejas, sindicatos, empresas, ONGs, espaço familiar...) alargaram a noção de escola e de sala de aula. A educação tornou-se comunitária, virtual, multicultural, intertranscultural e ecológica, e a escola estendeu-se para a cidade e o planeta. Hoje se pensa em rede, se pesquisa em rede, trabalha-se em rede, sem hierarquias. Paulo Freire insistia na conectividade, na gestão coletiva do conhecimento a ser socializado de forma ascendente. Não se trata mais de ver apenas a ‘cidade educativa’ (Edgar Faure) mas de enxergar o planeta como uma escola permanente”, pontua Angela Biz Antunes.
Em abril deste ano, Paulo Freire recebeu o título de Patrono da Educação Brasileira pela Presidência da República. E não para por aí. Ele é doutor Honoris Causa por 27 universidades, tendo títulos das Nações Unidas, 1986, e da Organização dos Estados Americanos, 1992.
O Instituto Paulo Freire, fundado por ele mesmo em 1991/1992, nasceu com essa missão de promover esta educação emancipadora, combatendo todas as formas de injustiça, de violência, de preconceito, de exclusão, de degradação das comunidades e da vida humana, educando para a transformação social e a cidadania planetária. No Brasil, a rede freiriana já conta mais de 10 instituições disseminadoras, além de mais de 50 homenagens - escolas, bibliotecas, salas etc., que levam o nome de Paulo Freire. Seus livros são referências no mundo todo e adotados por faculdades de pedagogia. Atualmente, a rede freiriana no mundo está conectada em cerca de 90 países, ou por universidades, ou por pedagogos/estudiosos de Freire.

Instituto Paulo Freire
http://www.paulofreire.org/
Rua Cerro Corá, 550
05061-100 São Paulo - SP
Tel: (11) 3021 5536

sábado, 17 de novembro de 2012

Debatendo a importância da História


O uso da História deve aproximar-se das experiências inerentes à turma.
Para muitos professores, o assunto aqui a ser debatido não passa de uma mera formalidade necessária ao primeiro dia de aula referente à disciplina de História. Entretanto, vemos que a discussão sobre a importância que o passado tem na formação do sujeito é ponto fundamental para que a aproximação com o conteúdo se desenvolva de modo salutar. Indo além dessa questão, devemos pontuar essa preocupação como um eixo orientador do trabalho cotidiano que o professor de História tem na sala de aula.

Visando fomentar essa discussão de uma forma diferente, sugerimos ao professor a utilização dos versos da canção “Canción por la unidad latinoamericana” feita através de uma parceria realizada entre Chico Buarque e Pablo Milanês. Antes do trabalho com a letra, destaque o ano de composição da canção, assinalando quais os possíveis interesses e motivações levariam esses dois artistas a se unirem para realizar a produção de tal obra.

Feita essa primeira explanação, realize a escuta coletiva da canção e a leitura de cada um dos versos da letra. Caso ache interessante, tendo em vista que a versão original alterna versos em português e espanhol, o trabalho com a canção pode ser previamente constituído de uma aula na qual a turma realize a tradução completa da mesma para o nosso idioma. Superada essa etapa de conhecimento e adaptação da música, promova a realização de um trabalho com os seguintes versos:

E quem garante que a História
É carroça abandonada
Numa beira de estrada
Ou numa estação inglória

A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue

É um trem riscando trilhos
Abrindo novos espaços
Acenando muitos braços
Balançando nossos filhos


Realizando uma separação entre a primeira e as duas últimas estrofes, pergunte aos alunos que concordam com as opiniões mostradas em cada uma das partes da letra. Saliente para a importância de que a sinceridade do debate é o fator de motivação principal, com vistas a não manifestar um repúdio impensado ao conhecimento histórico, falar bem da matéria para agradar ao professor ou fazer uma boa imagem entre os colegas. O foco central é determinar uma discussão sobre qual a importância que a história pode conter.

Na medida em que as opiniões se colocam, o professor tem a capacidade de dialogar com o conhecimento oferecido pela turma. Além de mostrar os usos e lugar que a História possui em nosso cotidiano, o professor também pode indicar que a visita ao passado pode ser feita sob diferentes formas, e que o conhecimento histórico não está fadado a um ideal de evolução ou progresso ininterrupto que muito se dissemina nas séries iniciais da vida estudantil.

Para encerrar o debate, o professor pode requerer à turma a formulação de uma atividade na qual eles encontrem alguma experiência do passado que retrate muita importância para eles no presente. Ao mesmo tempo em que se pode abrir “portas” para o peso que a História tem na vida de cada um, o professor pode finalizar tal discussão mostrando algum tema do tempo presente influenciado pelas questões do passado.


Por Rainer Sousa
Graduado em História
Equipe Brasil Escola